domingo, 24 de julho de 2011

tradutores e instrutores de libras

Com o objetivo de oferecer atendimento de qualidade aos alunos surdos da rede municipal de ensino, a Prefeitura de São José dos Campos abriu o processo público de credenciamento para instrutor de libras e intérprete de libras. De acordo com o edital, o período de inscrições vai do dia 25 a 29 deste mês.

Os escolhidos vão atuar no apoio aos professores das disciplinas

aulas ministradas nas salas que tenham entre os alunos crianças

com deficiência auditiva.

O candidato deve ter idade mínima de 18 anos, nível superior ou

médio, com fluência em libras (língua brasileira de sinais) e

competência para realizar a interpretação em sala de aula.

A educação audiovisual na inserção social

“A percepção da sociedade é que os jovens devam ser educados para a mídia, pois os jovens são catalisadores das mudanças sociais brasileira. Se utilizarmos a educação audiovisual para melhorar a educação do país, teremos uma sociedade melhor, mais crítica e voltada ao social”, disse a professora da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), pesquisadora e doutora em educação visual, Moira Toledo, no painel “Documentário, ficção e vida cotidiana”, da manhã de hoje, 19, do 7º Mutirão Brasileiro de Comunicação (Muticom). Moira falou sobre a qualidade de ensino com a utilização de recursos audiovisuais e a mudança de comportamento das crianças que se utilizam desse artifício.

Segundo Moira Toledo, após ministrar aulas de audiovisual para crianças de várias comunidades carentes do Rio de Janeiro, ela afirmou que consegue perceber a mudança de comportamento das crianças e jovens. “Nossa sociedade precisa ser educada a decifrar o que se passa na televisão. Precisamos ser mais críticos com o que nos é imposto todos os dias. E com as oficinas, as crianças conseguem entender mais como é feito os programas de TV, como manipular uma câmera e principalmente, o que aquela mensagem que passa a TV quer dizer”, explicou.

muticomrjmesadia2“Como preparar a juventude pra fazer uma leitura crítica da Televisão? Fazer uma construção ou uma desconstrução do que é feito na televisão? Ensine arte visual!”, exclamou Moira.

A professora Moira fez um levantamento para saber quantas entidades, no território nacional, trabalham ou trabalharam com arte visual nas escolas públicas desde o ano de 1995. No seu estudo, Moira descobriu que até o ano de 2009, 132 entidades trabalham com áudio visual como meio de inserção social, sendo 17 estados, mais o Distrito Federal (DF), em 38 cidades diferentes, 68,1% ainda estão ativas e 28% inativas, atingindo 25.665 alunos atendidos e 3.233 vídeos produzidos.

Mesmo com todos esses dados, Moira afirma que pelo menos 400 professores ensinam arte visual sem nunca ter lido um livro sobre o assunto ou feito um curso de capacitação. “Mesmo sem ter feito um curso sequer, o professor continua ensinado arte visual na prática, porque acredita que aquilo está ajudando a mudar a mentalidade dos jovens”, disse Moira.

“O cinema de periferia é no fundo, no fundo, conta a história de vida dos cineastas”, finalizou Moira Toledo.

fonte;http://www.cnbb.org.br/site/comissoes-episcopais/comunicacao-social/

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Pré-conferências de Assistência Social - SJC

O Conselho Municipal de Assistência Social de São José dos Campos, com apoio da Prefeitura, realiza neste sábado (23) o primeiro encontro preparatório para a 8ª Conferência Municipal de Assistência Social, programada para o dia 13 de agosto.

Serão quatro pré-conferências em diferentes regiões da cidade. Neste sábado, ocorrem os encontros das regiões leste e norte. E no dia 30 será a vez das regiões centro e sul. O tema é “Consolidar o SUAS e Valorizar seus Trabalhadores”.

A conferência tem como público alvo os usuários da assistência, trabalhadores do setor, entidades sociais e organizações governamentais e não governamentais. Os interessados em participar das discussões devem comparecer aos locais.

Em cada Pré-Conferência serão eleitos os 24 delegados representantes da sociedade civil e 24 do poder público para a 8ª Conferência Municipal de Assistência Social, que será realizada no dia 13 de agosto, no auditório da Casa do Idoso, das 7h30 às 18h.

Realizada a cada dois anos, a Conferência Municipal de Assistência Social é uma exigência dos Conselhos Nacional e Estadual de Assistência Social e representa o fórum de discussão de todas as questões da assistência. As propostas aprovadas na conferência municipal serão levadas às conferências regional, estadual e nacional.

Pré-Conferências

Região Norte

23/07/11 – 8h às 16h

Escola Ana Berling (Rua Alziro Lebrão, 318 - Alto da Ponte)

Região Leste

23/07/11 – 8h às 16h

Centro Comunitário da Vila Industrial (Praça José Molina s/n)

Região Sul

30/07/11 – 8h às 16h

Espaço Flávio Craveiro (Rua Lênin, 200 – D. Pedro I)

Região Centro

30/07/11 – 8h às 16h

Casa do Idoso (Rua Euclides Miragaia, 508 – Centro)

manual

PERÍODOS DA ADOLESCÊNCIA: INICIAL, INTERMEDIÁRIO E FINAL

ADOLESCÊNCIA: PERÍODO INICIAL

O crescimento acelerado é uma característica importante da puberdade. É mais pronunciado nas extremidades em relação ao tronco, e com isso os acidentes desastrados com as mãos são freqüentes até adaptação das novas proporções físicas. Na fase conhecida como estirão da puberdade, as meninas crescem 8 a 10 cm ao ano e os meninos, 9 a 12 cm. Como a puberdade feminina costuma iniciar antes da masculina, dos 10 aos 14 anos as meninas tendem a ser mais altas do que os meninos da mesma idade. A desaceleração do crescimento nas meninas ocorre após a menstruação, quando crescem em média 7 cm até a estatura final.
Em meninas, o primeiro sinal visível de puberdade é o aparecimento de brotos mamários, entre 8 e 13 anos. A menstruação começa tipicamente 2 a 2,5 anos depois (faixa normal, 9 a 16 anos), próximo ao pico de velocidade da estatura. Alterações menos óbvias incluem o aumento dos ovários, útero, lábios e clitóris
Em meninos, o aumento dos testículos começa aos 9,5 anos. O crescimento máximo ocorre quando os volumes testiculares atingem cerca de 9-10 cm3 . Ocorre algum grau de hipertrofia da mama em 40-65% dos meninos púberes. O aumento da mama nos meninos pode causar embaraço e incapacidade social ocorre em menos de 10%. A obesidade pode exacerbar a ginecomastia e deve ser tratada com dieta e exercício.
O surto de crescimento começa distalmente, com aumento das mãos e dos pés, seguido pelos braços e pernas e, por fim, pelo tronco e tórax. Os aumentos hormonais promovem acne. Alterações dentárias incluem crescimento da mandíbula, queda dos últimos dentes decíduos e erupção dos caninos, pré-molares e, por fim, dos molares permanentes.

SEXUALIDADE. O interesse por sexo aumenta no início da puberdade. A ejaculação ocorre pela primeira vez, em geral durante a masturbação, e depois espontaneamente no sono. No período inicial da adolescência, os adolescentes às vezes masturbam-se socialmente; a exploração sexual mútua não é necessariamente um sinal de homossexualidade.

DESENVOLVIMENTO COGNITIVO E MORAL. Na teoria piagetiana, a adolescência marca a transição do pensamento operacional concreto típico das crianças em idade escolar para operações lógicas formais. As operações formais incluem a capacidade de manipular abstrações como expressões algébricas, raciocinar a partir de princípios conhecidos, ponderar muitos pontos de vista de acordo com critérios variáveis e pensar sobre o próprio processo de pensamento. No período inicial, alguns adolescentes demonstram raciocínio formal, outros adquirem a capacidade mais tarde e outros nunca a adquirem. Não está claro se as alterações hormonais afetam ou não diretamente o desenvolvimento cognitivo. O desenvolvimento do pensamento moral acompanha aproximadamente o desenvolvimento cognitivo geral.

AUTOCONCEITO. A inibição aumenta exponencialmente em resposta às transformações somáticas da puberdade. Nessa idade, tende a centralizar-se em características externas , ao contrário da introspecção do final da adolescência.

RELAÇÕES COM A FAMÍLIA, PARES E SOCIEDADE. No início da adolescência, acentua-se a tendência à separação da família, com envolvimento crescente em atividades com outros adolescentes. Uma expressão simbólica dessa mudança é a renúncia às normas da família sobre vestir-se e cuidar-se em favor do “uniforme” do grupo de pares.
Adolescente do período inicial freqüentemente socializam-se em grupos do mesmo sexo. Piadas escatológicas, brincadeiras irritantes direcionadas contra o outro sexo e criação de boatos de quem gosta de quem atestam o florescimento do interesse sexual. Nessa fase, a relação do adolescente com a sociedade centraliza-se na escola.
IMPLICAÇÕES. O crescimento físico, a preocupação com o corpo e o interesse sexual correlacionam-se com a maturidade sexual, enquanto o avanço cognitivo, a separação e alterações do comportamento sexual podem correlacionar-se mais intimamente com a idade cronológica ou a série na escola.
Os adolescentes do período inicial muitas vezes tem dúvidas sobre as mudanças somáticas e sexuais que estão vivenciando.


ADOLESCÊNCIA – PERÍODO INTERMÉDIO

PERÍODO INTERMÉDIO DA ADOLESCÊNCIA

DESENVOLVIMENTO BIOLÓGICO. Na média, o surto de crescimento das meninas atinge seu máximo com 11,5 anos, em uma velocidade máxima de 8,3 cm por ano, e depois diminui, até parar com 16 anos de idade. Em meninos, o surto de crescimento começa mais tarde, atinge o pico com 13,5 anos, com 9,5 cm por ano, e depois diminui, até cessar com 18 anos de idade. O ganho de peso acompanha o crescimento linear, com um retardo de vários meses, de forma que os adolescentes parecem primeiro esticar e depois engordar. Os ganhos de peso puberais representam aproximadamente 40% do peso adulto. A massa muscular também aumenta, seguida, vários meses depois, por um aumento da força; os meninos mostram maiores ganhos em ambos.
O alargamento dos ombros em meninos e quadris em meninas também é determinado hormonalmente. A estimulação hormonal resulta em acne e odor corporal.

SEXUALIDADE. Os namoros tornam-se uma atividade normativa durante o período intermédio da adolescência. O grau de atividade sexual varia muito. A maturação biológica e as pressões sociais combinam-se para determinar a atividade sexual. Pode ocorrer algum tipo de experiência homossexual que não necessariamente reflete a orientação sexual final da criança. Os adolescentes homossexuais correm maior risco de isolamento e depressão.
Além da orientação sexual, os adolescentes nessa fase começam a diferenciar outros aspectos importantes da identidade sexual, incluindo crenças sobre o amor, honestidade e propriedade. Os namoros costumam ser superficiais nessa idade, enfatizando a atração e a experimentação sexual, em vez da intimidade.

DESENVOLVIMENTO COGNITIVO E MORAL. Com a transição para o raciocínio operacional formal, os adolescentes do período intermédio questionam e analisam extensamente. O questionamento de convenções morais promove o desenvolvimento de códigos de ética pessoais.

AUTOCONCEITO. O grupo de pares exerce menos influência sobre o modo de vestir, atividades e o comportamento. Os adolescentes do período intermédio freqüentemente experimentam diferentes personalidades, modificando estilos de vestir, grupos de amigos e interesses de um mês para outro.

RELAÇÕES COM A FAMÍLIA, PARES E A SOCIEDADE. A puberdade comumente resulta em relações tensas entre os adolescentes e seus pais. Como parte da separação, os adolescentes podem tornar-se distantes dos pais, redirecionando as energias emocionais e sexuais para as relações com pares. Os adolescentes do período intermédio freqüentemente começam a pensar seriamente sobre o que desejam fazer na idade adulta, uma pergunta que, antes, confortavelmente hipotética.

IMPLICAÇÕES A maturação física e sexual, as modificações do comportamento sexual e da identidade, a distância emocional dos pais, a diminuição da influência do grupo de pares, a introspecção e a crescente percepção da vida após a infância combinam-se para tornar o período intermédio da adolescência uma fase em que a oportunidade de conversar confidencialmente com um adulto informado e livre de julgamentos pode ser particularmente apreciado e útil.


ADOLESCÊNCIA: PERÍODO FINAL

PERÍODO FINAL DA ADOLESCÊNCIA

DESENVOLVIMENTO BIOLÓGICO. Os estágios finais de desenvolvimento dos seios, pênis e pêlos pubianos ocorrem por volta de 17-18 anos em 95% dos homens e mulheres.

DESENVOLVIMENTO PSICOSSOCIAL. A experimentação sexual diminui à medida que os adolescentes adotam identidades sexuais mais estáveis. A cognição tende a ser menos egocêntrica, com pensamentos crescentes sobre conceitos como justiça, patriotismo e história. Os adolescentes maiores com freqüência são idealistas, mas também podem ser absolutistas e intolerantes com opiniões opostas. Relações íntimas também são um componente importante da identidade para muitos adolescentes maiores. As decisões sobre a carreira tornam-se urgentes porque o autoconceito do adolescente está cada vez mais ligado ao papel emergente na sociedade (como estudante, trabalhador ou genitor).

IMPLICAÇÕES A tarefa crucial da adolescência como aquela de estabelecer um senso de identidade estável, incluindo separação da família de origem, início de intimidade e planejamento realista para a independência econômica. Para alcançar esses marcos, é necessário progresso no desenvolvimento tanto do adolescente quanto dos pais.


Fonte: Adaptado de Nelson

terça-feira, 12 de julho de 2011

RESOLUÇÃO Nº 145 ( do CONANDA )

Dispõe sobre a convocação da IX Conferência Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente e dá outras providências.
O Presidente do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente - CONANDA, no uso das atribuições legais e considerando a deliberação do Conselho em sua 193ª Assembléia Ordinária, realizada nos dia 16, 17 e 18 de março de 2011, resolve:

Art.1º - Convocar a IX Conferência Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente para discussão da Política Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente
Art.2º - A IX Conferência Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente realizar-se-á em Brasília no período 11 a 14 de julho de 2012.
Art.3º - Os Municípios deverão realizar suas Conferências 10 de agosto a 13 de novembro de 2011.
Art.4º - Os Estados deverão realizar suas Conferências até fevereiro a 15 de maio de 2012.
Art.5º - Caberá à Secretaria Especial dos Direitos Humanos e ao Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA) a adoção das providências necessárias ao cumprimento do objeto desta Resolução.
Art.6º - Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação.

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Ouvir, a principal técnica do diálogo

Alkindar

Dizem que é preciso debater à exaustão determinado tema conflitante, para chegar-se a um consenso. Há nesta corriqueira afirmação um equívoco: num debate dificilmente chega-se a um consenso, pois o termo “debate” pressupõe a existência de perdedor e ganhador. Portanto, como regra, não há como chegar a um consenso num debate. No debate a pessoa chega com determinado pressuposto e procura vencer, com suas idéias, as opiniões dos outros participantes.

Se for preciso chegar a um consenso, o mais adequado instrumento da comunicação é o diálogo. O objetivo maior do diálogo é atingir resultados extraordinários, assim sendo, num primeiro momento o verdadeiro diálogo admite e valoriza a ausência do consenso, pois só assim irão aflorar diversas idéias e sugestões sobre o tema-foco, mas na hora da ação, isto é, no momento de agir, a presença do consenso é fundamental.

A diferença básica entre a debate e o diálogo é que, enquanto no primeiro caso a pessoa já chega com suas idéias prontas procurando impô-las, no segundo, a pessoa despe-se de suas verdades ou pressupostos. No diálogo o grupo está aberto e predisposto a explorar diversos pontos de vista para se chegar a um bom resultado. Não há, no diálogo, pessoas perdedoras e ganhadoras, mas, sim, idéias vencedoras.

Outra diferença básica entre o debate e o diálogo é que, enquanto no primeiro caso (debate) os integrantes se utilizam de reflexões com o objetivo de encontrar argumentos que destruam ou enfraqueçam as idéias do outro, no segundo caso (diálogo) as pessoas fazem reflexões sobre a validade de suas próprias idéias.

No livro A Quinta Disciplina, Editora Campus, seu autor Peter Senge relata algumas frases determinantes do David Bohm sobre diálogo. David Bohm, destacado estudioso da física quântica, em uma das suas frases traduz a essência do diálogo: “No diálogo não estamos tentando vencer. Todos estaremos vencendo se estivermos fazendo de maneira correta”.

Diz ainda David Bohm: “O propósito do diálogo é revelar as incoerências do nosso pensamento”. Em consonância com esta frase Peter Senge desenvolve a seguinte teoria: “Quando um conflito vem á tona em um diálogo, as pessoas provavelmente percebem que há uma tensão, mas a tensão surge, literalmente, dos nossos pensamentos. As pessoas dizem ‘São os nossos pensamentos e a forma pela qual nos atemos a eles que entram em conflito, não nós’. Assim que as pessoas vêem a natureza participativa de seu pensamento, elas começam a se separar de seu pensamento. Começam a assumir uma posição mais criativa e menos reativa a seu pensamento”.

Por estas considerações de Peter Senge e de David Bohm, deduz-se que nas vezes em que quisermos atingir a efetividade em nosso meio, o diálogo é a ferramenta mais adequada, e não o debate.

Sobre o diálogo no mundo corporativo ou institucional, continua Peter Senge no já citado livro A Quinta Disciplina:

“Bohm identifica três condições básicas necessárias ao diálogo:

Todos os participantes devem ‘suspender’ seus pressupostos, literalmente colocando-os ‘como se estivessem suspensos diante de nós’;

Todos os participantes devem encarar uns aos outros como colegas;

Deve haver um ‘facilitador’ que ‘mantenha o contexto’ do diálogo.

Essas condições contribuem para permitir o ‘livre fluxo de significado’ passando entre os membros do grupo, diminuindo a resistência ao fluxo”.

“Suspender os pressupostos”, de David Bohm, comenta Peter Senge: “Significa segurá-los ‘como seestivessem pendurados à sua frente, constantemente acessíveis ao questionamento e à observação’. Isso não significa que temos de jogar fora nossos pressupostos, suprimi-los ou evitar sua expressão. Tampouco, de maneira alguma, significa que ter opiniões é ‘ruim’ ou que devamos eliminar o subjetivismo. Ao contrário, significa estarmos conscientes dos nossos pressupostos e submetê-los a exame. Isso não pode ser feito se estivermos defendendo nossas opiniões. Tão pouco pode ser feito se não tivermos consciência dos nossos pressupostos, ou de que nossas visões baseiam em pressuposto, ao invés de fatos incontroversos. Bohm argumenta que uma vez que o indivíduo ‘se fecha numa posição’ e decide que ‘é assim que tem de ser’, o fluxo do diálogo fica bloqueado”.

Sabermos OUVIR, a principal técnica do diálogo.

Para – de fato - sabermos falar e ouvir, é preciso que nos desenvolvamos em relação à empatia, à alteridade e à assertividade, que são – no conjunto – o tripé que sustenta o diálogo.

Para aprendermos a ouvir temos que ter uma grande força de vontade, haja vista que a resistência à mudança faz parte da natureza humana. Vejamos a seguir alguns exemplos de como somos resistentes a aceitar o novo.

O ex-executivo, e hoje articulista e palestrante, Max Gehringer, relata em um dos seus artigos, que certa vez distribuiu aos seus funcionários um produto em cuja embalagem constava a informação “Novo Sabor”. Pediu que todos experimentassem o produto e dessem sua opinião. O resultado da pesquisa mostrou que 52% acharam ruim o novo sabor; 30% acharam-no regular e 18% gostaram do novo sabor. Então, ele reuniu o pessoal e, para surpresa de todos, disse que a única alteração feita foi na embalagem do produto (“Novo Sabor”), pois o sabor continuava o mesmo!

Caro leitor, veja como é possível resistirmos até a uma “aparente” mudança! Com essa experiência a intenção de Max Gehringer foi simplesmente mostrar ao seu pessoal como somos resistentes às mudanças. E conseguiu. Seu pessoal reagiu negativamente a algo que nem havia mudado! Mas muitas vezes nem mesmo provando uma nova descoberta, a resistência deixa de existir. Relembremos o caso Galileu.

Certa vez Galileu reuniu os principais professores da Universidade de Pizza à frente da torre homônima para provar, cientificamente, que dois objetos com pesos diferentes lançados de uma mesma altura e num mesmo momento, levariam o mesmo tempo para atingir o solo. Galileu conseguiu provar aos estupefatos professores que o peso do objeto não é preponderante. Isto é, que qualquer que fosse o peso de cada um dos objetos , eles chegariam juntos ao solo. Galileu provou tal fato. Sabe o que os professores continuaram lecionando? Continuaram por muitos anos ensinando aos seus alunos o contrário do que Galileu havia cientificamente provado.

Mas por que eles agiram assim de forma tão absurda? Porque, insisto, nós somos resistentes às idéias novas.

Uma das mais importantes leis da comunicação interpessoal, a Lei de Russel, diz que “A resistência a uma idéia nova aumenta na proporção do quadrado de sua importância”. A conscientização desta realidade evita muitos dissabores, pois em vez de criticarmos os outros por serem resistentes às nossas idéias, compreenderemos que esta é uma característica própria da natureza humana. Portanto, cabe-nos aplicar técnicas adequadas para vencermos as resistências dos outros às nossas idéias, que é um dos objetivos deste texto. Mas que não nos esqueçamos que nóstambém somos resistentes às idéias do outros.

Carl Rogers, psicólogo humanista, reforça nossa resistência às idéias novas: “Mesmo entre aqueles que aceitaram as regras fundamentais da ciência, a crença provisória nos resultados da investigação científica. apenas se dá quando existe uma preparação subjetiva para ela. Ressalta de tudo isto que a possibilidade de eu acreditar nas descobertas científicas dos outros ou nos meus próprios estudos, depende em parte da minha receptividade em relação a estas descobertas”. Deduz-se desta afirmação de Carl Rogers a importância da lição que Benjamin Franklin nos passa: “Se quiseres convencer, fale de interesses, em vez de apelares à razão”.

Os comentários acima de Max Gehringer, a história de Galileu, a Lei de Russel e Carl Rogers evidenciam como somos resistentes às idéias novas. Mas a questão é: qual é o melhor instrumento para vencer tanto a resistência do outro quanto a nossa às idéias novas? A resposta é uma só: aprendermos a ouvir.

O diálogo tem como principal regra o fato de sabermos, ou aprendermos, a ouvir o outro.

Sobre este assunto, faço a seguinte adaptação de um artigo que escrevi em tempos passados:Deming, o papa da Qualidade Total, disse que o melhor antídoto à criatividade, isto é, o que mais prejudica o aflorar da criatividade é o fato do funcionário sentir-se que faz parte de uma equipe assustada, sentir-se parte de uma equipe que tem medo de dar idéias ao líder, pois sabe que naturalmente serão rechaçadas. O bom líder deve saber trabalhar a natural resistência que temos às idéias e fatos novos. Antes de dizer “não vai dar certo” ou “já fizemos isto antes e não funcionou”, ouça. Ouça, ouça e ouça.

Incentive a pessoa a falar. Pergunte detalhes. Valorize a idéia do próximo. McKnight, o lendário ex-presidente da 3M, deixou-nos algumas lições: “Ouça qualquer pessoa que tenha uma idéia original, não importa quão absurda possa parecer à primeira vista. Motive, não fique preocupado com detalhes. Deixe que as pessoas desenvolvam uma idéia.”

Técnicas para bem ouvir.

Algumas boas dicas, passadas pela educadora Joanna de Angelis, para aprendermos a ser bons ouvintes:

a) Não interrompa o interlocutor passando informações várias, talvez desinteressantes para ele;

b) Não aparente saber tudo, estar por dentro de todos os acontecimentos;

c) Não lhe tome a palavra, fazendo a conclusão, em vez de deixá-lo concluir à sua maneira;

d) Seja gentil, fazendo com que sua cordialidade o deixe à vontade;

e) Deixe que sua cordialidade o ponha à vontade para descarregar tensão, sofrimento;

f) No momento próprio, fale com naturalidade, sem a falsa postura de intocável ou sem-problema;

g) Procure ressaltar da idéia ouvida algo de positivo, de interessante; agradeça-lhe a idéia. Se tiver que fazer críticas, utilize-se da docilidade e do bom senso.

A importância de perguntas adequadas para bem ouvir.

Para bem ouvir, nós temos que também saber bem perguntar. Veja logo a seguir duas formas de perguntar a um líder religioso se é permitido fumar e rezar ao mesmo tempo:

a) Posso fumar quando estou rezando?

b) Posso rezar quando estou fumando?

No exemplo, a probabilidade da resposta ser positiva está muito mais evidente na segunda pergunta. Não basta perguntar, é preciso saber “como” perguntar.

As perguntas que geram mais reflexão e iniciativa são: “O quê?” e “Como?”. Outras perguntas também importantes são: “Quem?”; “Onde?”; “Quando?”; “O que mais?”; “O que você quer?”; “O que isso vai te trazer?”; “Como você poderia fazer isso?”. Acrescente também a colocação: “Me diga mais...”. Para não parecer um interrogatório, as perguntas precisam ser entremeadas com simpática e produtiva conversa.

Aprendendo a ouvir em três níveis.

Precisamos aprender a ouvir em três níveis: Interno; Focado e Global. Interno, quando faz suas reflexões interiorizando o que concluiu da fala do outro, para só depois comentar; Focado, no sentido de associar o que ouviu ao propósito da reunião ou do diálogo; Global, no sentido de sempre ter uma visão generalista para que a flexibilidade se faça presente.

Aprendendo a ser bom ouvinte, passaremos a ter uma visão mais abrangente da realidade que está à nossa volta. O líder que muito fala e pouco ouve, mais expõe o seu universo e sua verdade do que aprende com o universo e a verdade das pessoas que estão à sua volta.

Reforçando o que foi dito mais acima, para – de fato - sabermos falar e ouvir, em outras palavras, para “sabermos dialogar” é preciso que nos desenvolvamos em relação à empatia, que é a habilidade de saber colocarmo-nos no lugar do outro; à alteridade, que é a arte de saber conviver com as diferentes pessoas; e à assertividade, que é a habilidade de comunicarmo-nos de forma transparente e verdadeira sem ferirmos o próximo. No conjunto, empatia, alteridade e assertividade representam o tripé que sustenta o diálogo.

http://www.alkindar.com.br/treinamento/cultura-do-dialogo.html

O MÉTODO PAULO FREIRE ©

©Texto de Sonia Couto Souza Feitosa como parte da dissertação de mestrado defendida na FE-USP (1999) intitulada: "Método Paulo Freire: princípios e práticas de uma concepção popular de educação"

1 - Introdução

Existem diversos e conhecidos trabalhos sobre o Método Paulo Freire. Não queremos reproduzi-los aqui. Buscaremos entender quais são os princípios e práticas deste Método já que o próprio Paulo Freire entendia tratar-se muito mais de uma Teoria do Conhecimento do que de uma metodologia de ensino, muito mais um método de aprender que um método de ensinar

Paulo Freire marcou uma ruptura na história pedagógica de seu país e da América Latina. Através da criação da concepção de educação popular ele consolidou um dos paradigmas mais ricos da pedagogia contemporânea rompendo radicalmente com a educação elitista e comprometendo-se verdadeiramente com homens e mulheres. Num contexto de massificação, de exclusão, de desarticulação da escola com a sociedade, Freire dá sua efetiva contribuição para a formação de uma sociedade democrática ao construir um projeto educacional radicalmente democrático e libertador. Assim sendo, seu pensamento e sua obra é, e continuará sendo, um marco na pedagogia nacional e internacional.

Ao longo de sua militância educacional, social e política, Freire jamais deixou de lutar pela superação da opressão e desigualdades sociais entendendo que um dos fatores determinantes para que ela se dê é o desenvolvimento da consciência crítica através da consciência histórica. Seu projeto educacional sempre contemplou essa prática, construindo sua teoria do conhecimento com base no respeito pelo educando, na conquista da autonomia e na dialogicidade enquanto princípios metodológicos.

Esse pensar crítico e libertador que permeia sua obra, serve como inspiração para educadores do mundo inteiro que acreditam ser possível unir as pessoas numa sociedade com eqüidade e justiça. Isso faz com que Paulo Freire seja hoje um dos educadores mais lidos do mundo.

Nas últimas décadas, temos presenciado a evolução e recriação de suas teses epistemológicas, ou seja, sua teoria do conhecimento, que apontam para a construção de novos paradigmas educacionais e constante recriação da práxis pedagógica libertadora.

2 - Pressupostos do Método

A proposta de Freire parte do Estudo da Realidade (fala do educando) e a Organização dos Dados (fala do educador). Nesse processo surgem os Temas Geradores, extraídos da problematização da prática de vida dos educandos. Os conteúdos de ensino são resultados de uma metodologia dialógica. Cada pessoa, cada grupo envolvido na ação pedagógica dispõe em si próprio, ainda que de forma rudimentar, dos conteúdos necessários dos quais se parte. O importante não é transmitir conteúdos específicos, mas despertar uma nova forma de relação com a experiência vivida. A transmissão de conteúdos estruturados fora do contexto social do educando é considerada "invasão cultural" ou "depósito de informações" porque não emerge do saber popular. Portanto, antes de qualquer coisa, é preciso conhecer o aluno. Conhecê-lo enquanto indivíduo inserido num contexto social de onde deverá sair o "conteúdo" a ser trabalhado.

Assim sendo, "não se admite uma prática metodológica com um programa previamente estruturado assim como qualquer tipo de exercícios mecânicos para verificação da aprendizagem, formas essas próprias da "educação bancária", onde o saber do professor é depositado no aluno, práticas essas domesticadoras. (BARRETO, s.d. p. 4). O relacionamento educador-educando nessa perspectiva se estabelece na horizontalidade onde juntos se posicionam como sujeitos do ato do conhecimento. Elimina-se portanto toda relação de autoridade uma vez que essa prática inviabiliza o trabalho de criticidade e conscientização.

Segundo Freire o ato educativo deve ser sempre um ato de recriação, de re-significação de significados. O Método Paulo Freire tem como fio condutor a alfabetização visando à libertação. Essa libertação não se dá somente no campo cognitivo mas acontece essencialmente nos campos social e político. Para melhor entender este processo precisamos ter clareza dos princípios que constituem o método e que estão diretamente relacionados às idéias do educador que o concebeu.

1º - O primeiro princípio do "Método Paulo Freire" diz respeito à politicidade do ato educativo.

Um dos axiomas do Método em questão é que não existe educação neutra. A educação vista como construção e reconstrução contínua de significados de uma dada realidade prevê a ação do homem sobre essa realidade. Essa ação pode ser determinada pela crença fatalista da causalidade e, portanto, isenta de análise uma vez que ela se lhe apresenta estática, imutável, determinada, ou pode ser movida pela crença de que a causalidade está submetida a sua análise, portanto sua ação e reflexão podem alterá-la, relativizá-la, transformá-la.

A visão ingênua que homens e mulheres têm da realidade faz deles escravos, na medida em que não sabendo que podem transformá-la, sujeitam-se a ela. Essa descrença na possibilidade de intervir na realidade em que vivem é alimentada pelas cartilhas e manuais escolares que colocam homens e mulheres como observadores e não como sujeitos dessa realidade.

O que existe de mais atual e inovador no Método Paulo Freire é a indissociação da construção dos processos de aprendizagem da leitura e da escrita do processo de politização. O alfabetizando é desafiado a refletir sobre seu papel na sociedade enquanto aprende a escrever a palavra sociedade; é desafiado a repensar a sua história enquanto aprende a decodificar o valor sonoro de cada sílaba que compõe a palavra história. Essa reflexão tem por objetivo promove a superação da consciência ingênua - também conhecida como consciência mágica - para a consciência crítica.

Na experiência de Angicos, assim como em outros lugares onde foi adotado o método, as salas de aula transformaram-se em fóruns de debate, denominados "Círculos de Cultura". Neles, os alfabetizandos aprendiam a ler as letras e o mundo e a escrever a palavra e também a sua própria história.

Através de slides contendo cenas de seu cotidiano esses trabalhadores/educandos discutiam sobre o desenrolar de suas vidas reconstruindo sua história, sendo desafiados a perceberem-se enquanto sujeitos dessa história. Nesse contexto era apresentada uma palavra aos educandos - ligada a esse cotidiano e previamente escolhida - e, através do estudo das famílias silábicas que a compunham, o educando apropriava-se do conhecimento do código escrito ao mesmo tempo que refletia sobre sua história de vida.

O professor, contrariando a visão tradicionalista que atribui a ele o papel privilegiado de detentor do saber, é denominado "Animador de debates" e tem o papel de coordenar o debate, problematizar as discussões para que opiniões e relatos surjam. Cabe também ao educador conhecer o universo vocabular dos educandos, o seu saber traduzido através de sua oralidade, partindo de sua bagagem cultural repleta de conhecimentos vividos que se manifestam através de suas histórias, de seus "causos" e, através do diálogo constante, em parceria com o educando, reinterpretá-los, recriá-los.

Os alfabetizandos, ao dialogar com seus pares e com o educador sobre o seu meio e sua realidade, têm a oportunidade de desvelar aspectos dessa realidade que até então poderiam não ser perceptíveis. Essa percepção se dá em decorrência da análise das condições reais observadas uma vez que passam a observá-la mais detalhadamente. Uma re-admiração da realidade inicialmente discutida em seus aspectos superficiais será realizada, porém com uma visão mais crítica e mais generalizada. Essa nova visão, não mais ingênua, mas crítica vai instrumentalizá-los na busca de intervenção para transformação.

Todo esse movimento de observação-reflexão-readmiração-ação faz do Método Paulo Freire uma metodologia de caráter eminentemente político.

2º - O segundo princípio do Método diz respeito a dialogicidade do ato educativo.

Segundo Harmon, a pedagogia proposta por Freire é fundamentada numa antropologia filosófica dialética cuja meta é o engajamento do indivíduo na luta por transformações sociais (HARMON, 1975:89). Sendo assim, para Freire, a base da pedagogia é o diálogo. A relação pedagógica necessita ser, acima de tudo, uma relação dialógica.

Essa premissa está presente no método em diferentes situações: entre educador e educando, entre educando e educador e o objeto do conhecimento, entre natureza e cultura.

Sempre em busca de um humanismo nas relações entre homens e mulheres, a educação, segundo Paulo Freire, tem como objetivo promover a ampliação da visão de mundo e isso só acontece quando essa relação é mediatizada pelo diálogo. Não no monólogo daquele que, achando-se saber mais, deposita o conhecimento, como algo quantificável, mensurável naquele que pensa saber menos ou nada saber. A atitude dialógica é, antes de tudo, uma atitude de amor, humildade e fé nos homens, no seu poder de fazer e de refazer, de criar e de recriar (FREIRE, 1987:81).

A dialogicidade, para Paulo Freire, está ancorada no tripé educador-educando-objeto do conhecimento. A indissociabilidade entre essas três "categorias gnosiológicas" é um princípio presente no Método a partir da busca do conteúdo programático. O diálogo entre elas começa antes da situação pedagógica propriamente dita. A pesquisa do universo vocabular, das condições de vida dos educandos é um instrumento que aproxima educador-educando-objeto do conhecimento numa relação de justaposição, entendendo-se essa justaposição como atitude democrática, conscientizadora, libertadora, daí dialógica.

O diálogo entre natureza e cultura, está presente no Método Paulo Freire a partir da idéia de homens e mulheres enquanto produtores de cultura. Para a introdução do conceito de cultura, ao mesmo tempo gnosiológica e antropológica, Freire selecionou dez situações existenciais "codificadas" para levar os grupos à sua respectiva "decodificação". Francisco Brenand um expressivo pintor brasileiro retratou essas situações. A utilização dessas situações existenciais, já naquela época, proporcionava uma perfeita integração entre educação e arte, proposta que atualmente é referendada nos Parâmetros Curriculares Nacionais. Essas gravuras representando cenas da vida dos alfabetizandos, apresentavam, por serem um recorte da realidade, o cenário natural para que os debates, partindo deste contexto existencial, não fosse apenas um blá, blá, blá (expressão usada diversas vezes por Freire) sobre o vazio, mas que fosse uma rica exposição de idéias sobre o seu mundo e sobre a sua ação nesse mundo capaz de transformá-lo com seu trabalho. Aprender é um ato de conhecimento da realidade concreta, isto é, da situação real vivida pelo educando e só tem sentido se resultar de uma aproximação crítica dessa realidade.

O diálogo entre natureza e cultura, entre o homem e a cultura e entre o homem e a natureza se constituía em uma prática comum na alfabetização de jovens e adultos proposta por Freire. Fernando Menezes descreve como esse diálogo se efetivava nos Círculos de Cultura:

Os debates têm início na primeira hora que o homem participa do círculo de cultura. Em vinte minutos, uma turma de analfabetos é capaz de fazer a distinção fundamental para o método: natureza diferente de cultura. Para chegar a esse resultado, se utiliza através de slides ou quadros, uma cena cotidiana do meio onde vive o grupo. Como exemplo, citaremos uma cena do campo: um homem, sua palhoça, uma cacimba, um pássaro voando e uma árvore. O mestre exige de todos a descrição daquela cena, e em seguida, indaga o que o homem fez e o que ele não fez naquele quadro. Ao obter as respostas deixa logo indicada a diferença: o que o homem faz é Cultura e o que ele não faz é Natureza.

(Jornal do Comércio, Recife, em 09/03/63)

Uma metodologia que promova o debate entre o homem, a natureza e a cultura, entre o homem e o trabalho, enfim entre o homem e o mundo em que vive, é uma metodologia dialógica e, como tal, prepara o homem para viver o seu tempo, com as contradições e os conflitos existentes, e conscientiza-o da necessidade de intervir nesse tempo presente para a construção e efetivação de um futuro melhor.

4 - Momentos e Fases do Método

Do ponto de vista semântico, a palavra "método" pode significar: "caminho para chegar a um fim; caminho pelo qual se atinge um objetivo; programa que regula previamente uma série de operações que se devem realizar, apontando erros evitáveis, em vista de um resultado determinado; processo ou técnica de ensino: método direto; modo de proceder; maneira de agir; meio" (FERREIRA, 1986:1128).

A palavra "método" da forma como é definida em seu "sentido de base" não retrata com fidelidade a idéia e o trabalho desenvolvido por Freire. É no "sentido contextual", carregado dos princípios de seu idealizador, que a palavra método é utilizada em larga escala.

Em entrevista concedida à Nilcéia Lemos Pelandré, em 14/04/1993, Freire diz o seguinte:

Eu preferia dizer que não tenho método. O que eu tinha, quando muito jovem, há 30 anos ou 40 anos, não importa o tempo, era a curiosidade de um lado e o compromisso político do outro, em face dos renegados, dos negados, dos proibidos de ler a palavra, relendo o mundo. O que eu tentei fazer e continuo hoje, foi ter uma compreensão que eu chamaria de crítica ou de dialética da prática educativa, dentro da qual, necessariamente, há uma certa metodologia, um certo método, que eu prefiro dizer que é método de conhecer e não um método de ensinar (PELANDRÉ, 1998:298).

Embora concordemos com Freire, a expressão "Método Paulo Freire" é hoje uma expressão universalizada e cristalizada como referência de uma "concepção democrática, radical e progressista de prática educativa", razão pela qual usamos essa expressão ao longo deste texto.

Essa insistência em classificar a metodologia de Freire em termos de Método ou Sistema se dá pelo fato dela compreender uma certa sequenciação das ações, ou melhor dizendo, ela estrutura-se em momentos que, pela sua natureza dialética, não são estanques, mas estão interdisciplinarmente ligados entre si.

Para situar melhor essa sequenciação indicaremos aqui os momentos que compõem a metodologia criada por Freire:

1º Momento: Investigação Temática – Pesquisa Sociológica: investigação do universo vocabular e estudo dos modos de vida na localidade (Estudo da Realidade). Segundo Beisiegel:

O método começava por localizar e recrutar os analfabetos residentes na área escolhida para os trabalhos de alfabetização. Prosseguia mediante entrevistas com os adultos inscritos nos "círculos de cultura" e outros habitantes selecionados entre os mais antigos e os mais conhecedores da realidade. Registravam-se literalmente as palavras dos entrevistados a propósito de questões referidas às diversas esferas de suas experiências de vida no local: questões sobre experiências vividas na família, no trabalho, nas atividades religiosas, políticas recreativas etc. O conjunto das entrevistas oferecia à equipe de educadores uma extensa relação das palavras de uso corrente na localidade. Essa relação era entendida como representativa do universo vocabular local e delas se extraíam as palavras geradoras – unidade básica na organização do programa de atividades e na futura orientação dos debates que teriam lugar nos "círculos de cultura" ( BEISIEGEL, 1974, p. 165)

Como podemos perceber, o estudo da realidade não se limita à simples coleta de dados e fatos, mas deve, acima de tudo, perceber como o educando sente sua própria realidade superando a simples constatação dos fatos; isso numa atitude de constante investigação dessa realidade. Esse mergulho na vida do educando fará o educador emergir com um conhecimento maior de seu grupo-classe, tendo condições de interagir no processo ajudando-o a definir seu ponto de partida que irá traduzir-se no tema gerador geral.

A expressão tema gerador geral está ligada à idéia de Interdisciplinaridade e está presente na metodologia freireana pois tem como princípio metodológico a promoção de uma aprendizagem global, não fragmentada. Nesse contexto, está subjacente a noção holística, de promover a integração do conhecimento e a transformação social. Do tema gerador geral sairá o recorte para cada uma das áreas do conhecimento ou, para as palavras geradoras. Portanto, um mesmo tema gerador geral poderá dar origem à várias palavras geradoras que deverão estar ligadas a ele em função da relação social e que os sustenta.

2º Momento: Tematização: seleção dos temas geradores e palavras geradoras.

Através da seleção de temas e palavras geradoras, realizamos a codificação e decodificação desses temas buscando o seu significado social, ou seja, a consciência do vivido. Através do tema gerador geral é possível avançar para além do limite de conhecimento que os educandos têm de sua própria realidade, podendo assim melhor compreendê-la a fim de poder nela intervir criticamente. Do tema gerador geral deverão sair as palavras geradoras. Cada palavra geradora deverá ter a sua ilustração que por sua vez deverá suscitar novos debates. Essa ilustração (desenho ou fotografia) sempre ligada ao tema, tem como objetivo a "codificação", ou seja, a representação de um aspecto da realidade, de uma situação existencial construída pelos educandos em interação com seus elementos.

3º Momento: Problematização: busca da superação da primeira visão ingênua por uma visão crítica, capaz de transformar o contexto vivido. "A problematização nasce da consciência que os homens adquirem de si mesmos que sabem pouco a próprio respeito. Esse pouco saber faz com que os homens se transformem e se ponham a si mesmos como problemas"(JORGE, 1981:78).

Após a etapa de investigação (estudo da realidade), passa-se à seleção das palavras geradoras, que deverá obedecer a três critérios básicos:

a) Elas devem necessariamente estar inseridas no contexto social dos educandos.

b) Elas devem ter um teor pragmático, ou melhor, as palavras devem abrigar uma pluralidade de engajamento numa dada realidade social, cultural, política etc...

c) Elas devem ser selecionadas de maneira que sua seqüência englobe todos os fonemas da língua, para que com seu estudo sejam trabalhadas todas as dificuldades fonéticas.

Essa seleção deve ser conjunta, cabendo porém ao educador a seleção gradual das dificuldades fonéticas, uma vez que o método é silábico. Os fonemas trabalhados numa aula deverão ser registrados numa ficha ou no próprio caderno para que o educando, em casa, seja desafiado a construir novas palavras (uma vez que algumas já foram criadas pelo grupo), comparar com as já criadas, descobrindo semelhanças e/ou diferenças entre elas. Nesse processo de construção de novas palavras, leitura e escrita acontecem simultaneamente.

É importante que o educador mostre aos educandos a articulação oral dos valores das vogais nos fonemas para facilitar o reconhecimento sonoro de cada uma das vogais.

Em seu livro Educação como Prática da Liberdade Freire propõe a execução prática do Método em cinco fases, a saber:

1ª Fase: levantamento do universo vocabular dos grupos com quem se trabalhará. Essa fase se constitui num importante momento de pesquisa e conhecimento do grupo, aproximando educador e educando numa relação mais informal e portanto mais carregada de sentimentos e emoções. É igualmente importante para o contato mais aproximado com a linguagem, com os falares típicos do povo.

2ª Fase: escolha das palavras selecionadas do universo vocabular pesquisado. Como já afirmamos anteriormente, esta escolha deverá ser feita sob os critérios: a) da riqueza fonética; b) das dificuldades fonéticas, numa seqüência gradativa dessas dificuldades; c) do teor pragmático da palavra, ou seja, na pluralidade de engajamento da palavra numa dada realidade social, cultural, política etc...

3ª Fase: criação de situações existenciais típicas do grupo com quem se vai trabalhar. São situações desafiadoras, codificadas e carregadas de elementos que serão descodificados pelo grupo com a mediação do educador. São situações locais que discutidas abrem perspectivas para a análise de problemas regionais e nacionais.

4ª Fase: Elaboração de fichas-roteiro que auxiliem os coordenadores de debate no seu trabalho. São fichas que deverão servir como subsídios, mas sem uma prescrição rígida a seguir.

5ª Fase: Elaboração de fichas com a decomposição das famílias fonéticas correspondentes aos vocábulos geradores. Esse material poderá ser confeccionado na forma de slides, stripp-filmes (fotograma) ou cartazes.

A proposta de utilização dessa metodologia na alfabetização de jovens e adultos foi completamente inovadora e diferente das técnicas até então utilizadas que eram, na maioria das vezes, resultado de adaptações simplistas das cartilhas, com forte tônica infantilizante. Foi diferente por possibilitar uma aprendizagem libertadora, não mecânica, mas uma aprendizagem que requer uma tomada de posição frente aos problemas que vivemos. Uma aprendizagem integradora, abrangente, não compartimentalizada, não fragmentada, com forte teor ideológico. Foi diferente pois promovia a horizontalidade na relação educador-educando, a valorização de sua cultura, de sua oralidade, enfim, foi diferente, acima de tudo, pelo seu caráter humanístico. Dessa forma, o Método proposto por Freire rompeu com a concepção utilitária do ato educativo propondo uma outra forma de alfabetizar. Cabe aqui também o registro que Paulo Freire, ao trabalhar com slides, gravuras, enfim materiais audiovisuais foi um dos pioneiros na utilização da linguagem multimídia na alfabetização de adultos. Isso prova o quanto Freire estava à frente de seu tempo.

No entanto, desde a sua origem e aplicação na década de 60 até os dias atuais, o Método Paulo Freire vem suscitando controvérsias, se constituindo em assunto polêmico para a realização de teses, simpósios, mesas-redondas, publicação de livros e artigos, além de se constituir em fonte de estudo, pesquisa e também aplicação em diferentes partes do Brasil e do mundo.

O Método Paulo Freire continua vivo e em evolução entre aqueles que trabalham com as suas idéia, mas reafirmamos a necessidade de recriação constante em toda e qualquer prática educativa, inclusive no método em questão.

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