quarta-feira, 21 de setembro de 2011

O que faz o Educador Social?

Ubiratan Fazendeiro
Oferece respostas ajustadas, compreensivas aos problemas sociais de forma a contribuir para suas melhorias.

O educador social é um conceito profissional em construção, com perfil ligeiramente difícil de delimitar. São preferencialmente técnicos de nível superior, geralmente da área da educação, psicologia ou sociologia, orientados para trabalhar em vários cenários. Mas também são cuidadores , recreacionistas, instrutores, agentes de saúde, educadores ambientais entre outros que se dedicam a ajudar pessoas a melhorar o meio social.
Esta polivalência favorece a intervenção nos mais diversos contextos, educativos e sociais, culturais, econômicos e etários e que estejam ou não em situação de vulnerabilidade.

Seu compromisso é a transformação social. Trabalha com a educação não formal, com indivíduos ou grupos provocando-os a assumirem condutas assertivas. Sua metodologia é observar, interpretar as reais necessidades e motivá-los para a ação.

A sua proximidade com a comunidade permite valorizar a importância de cada situação, viabilizando a intervenção de políticas sociais do estado ou de ONGs. Quanto a atuação com indivíduos estabelece uma relação de confiança, motivado-os a dar o salto qualitativo e quantitativo não precisando, depois de algum tempo, da assistência diferenciada .
A educação social é a estratégia  para empoderar (empowerment)  indivíduos a obter valores e atitudes desejáveis em relação à saúde, a segurança, a afetividade, ao aculturamento, a espiritualidade, a organização social e econômica e o exercício da cidadania.




terça-feira, 20 de setembro de 2011

Princípios básicos para trabalhar com grupos de adolescentes

(Fonte: “Aprendendo a ser e a conviver”, de Margarida Serrão e Maria Clarice Baleeiro. São Paulo: FTD, 1999.)
“Mas, eu sei que onde se imaginava por fim do caminho,
está plantado o marco de uma nova e possível estaca zero”

Um princípio é como o norte na bússola que aponta a direção, indicando o caminho a seguir e evitando o desvio da rota. Os princípios básicos para o trabalho com grupos de adolescentes expressam os fundamentos para a atuação do educador dentro do grupo. É o que dá sustentação ao trabalho, aquilo de que não se pode abrir mão.
Trabalhar com grupos de adolescentes é estar constante e insistentemente tocando esse material sutil e delicado de que é feito o ser humano. Num fazer e refazer permanente, lá estamos nós, educadores, acreditando outra vez em sonhos. E de sonho em sonho, vamos construindo a realidade.
Na nossa experiência em desenvolvimento pessoal e social de jovens, não há ponto de chegada predeterminado, pois é impossível precisar com segurança os resultados que serão obtidos ao término do processo grupal. Estabelecemos resultados esperados, mas cada grupo vai chegar onde for possível. Só conhecemos o ponto de partida.
O caminho pode ser longo. Estamos sempre por chegar, construindo e reconstruindo. Trata-se de um caminhar contínuo, repleto de descobertas e surpresas. O importante é seguir em frente, dar o máximo de si, permitir-se tentar, estar aberto ao novo.
Ao nos darmos conta de que não há ponto de chegada definido, talvez sejamos tomados por dúvidas e inquietações: vale a pena o que faço? Minha ação gera frutos para o adolescente? Será que tudo isso é em vão? É nesse momento que o educador se debate com as ameaças à sua onipotência, o que exige dele a aceitação de seus limites, dos limites de sua ação e da sua incapacidade de responder a todas as solicitações.
Assim é o trabalho com o adolescente, cheio de possibilidades e de reconstruções. As sementes deixadas germinarão a seu tempo. Os frutos talvez não os possamos colher, mas sabemos que lá estarão para serem colhidos. Trabalhamos com valores e atitudes. E valores e atitudes precisam de tempo para constituir-se e consolidar-se.
Lembramos que o termo facilitador se refere ao educador no seu trabalho de coordenação, por reconhecermos que a essência de sua atuação é facilitar o caminho do grupo na direção do autoconhecimento, do desenvolvimento pessoal e social e da cidadania.

Colocar limites:“Sem limites não há possibilidade de convivência”
A construção de um vínculo afetivo com o grupo não significa uma relação permissiva em que tudo seja possível e todos os desejos individuais, atendidos. Os papéis e níveis de responsabilidade do facilitador e dos participantes devem permanecer bem definidos. Os limites situam as possibilidades e impossibilidades de determinadas experiências, até onde cada um pode e deve ir. Ao facilitador compete a colocação dos limites que vão permitir a formação do grupo e a preservação de um clima de respeito e confiança. Isto favorece o estabelecimento de uma comunicação em que todos podem expressar seus sentimentos e opiniões com liberdade.
Os limites devem ser claros, objetivos, justos e coerentes e precisam ser estabelecidos com o grupo de maneira firme e amorosa. Quando nos referimos a limites, não estamos tratando apenas de proibições e impedimentos, mas incluímos as regras básicas do convívio e do funcionamento grupal que devem fazer parte de um “contrato” entre facilitador e os adolescentes. Os limites não devem ser tomados como punição, mas como contornos necessários a uma convivência humana mais ética.
É importante que o facilitador seja verdadeiro, coerente, autêntico, procurando diminuir contradições entre o que faz e o que diz, sem ocupar o lugar de onipotente e salvador, mostrando com respeito as incoerências do grupo e de seus integrantes e perguntando sobre aquilo que não é dito, mas que aparece nas entrelinhas.

Respeitar-se mutuamente:
Para que um grupo possa se constituir, é fundamental que se estabeleça uma relação de respeito mútuo, cabendo ao facilitador dar o exemplo. Respeitar alguém significa respeitar sua individualidade, suas formas de expressão e imagem, suas origens, suas escolhas, suas opiniões, seus limites e seus sentimentos. Respeitar não implica em concordar com o outro ou elogiar qualquer tipo de conduta. Significa não ter o direito de desqualificar, menosprezar, ridicularizar, oprimir e/ou impor.
O respeito no grupo se consolida quando vínculos são estabelecidos e limites definidos. Ele não brota naturalmente, mas é cultivado dentro do grupo como uma planta que precisa ser posta em solo adubado, ser regada e cuidada para que floresça e dê frutos.

Construir o vínculo afetivo:
Chamamos de vínculo a relação que se constrói entre as pessoas na convivência grupal. Através do vínculo, o processo de desenvolvimento pessoal e social do jovem se torna possível.
O vínculo tem papel essencial em toda e qualquer ação que objetiva mudanças e transformações, funcionando como o elo de uma corrente que liga os indivíduos, favorecendo a ampliação do modo de sentir e perceber a si mesmo e ao outro.
O vínculo afetivo que o facilitador estabelece com o grupo deve ter um caráter libertador, que permita a expressão de questões pessoais e conduza à autonomia, abrindo espaço para novos questionamentos, quebrando preconceitos e impedindo que os rótulos se tornem permanentes e os papéis fixos.
Para criar condições favoráveis à construção do vínculo, o facilitador deve observar, dentre outras questões, alguns pontos fundamentais, como:
- Disponibilidade interna: É preciso que todos – facilitador e participantes – estejam dispostos a estar ali para construir algo em comum e dediquem a essa construção o que há de mais verdadeiro em si. É fundamental que cada participante se sinta um elo da corrente.

- Aceitação das diferenças individuais e do jeito de ser de cada um: Esta aceitação possibilita a compreensão de que a diferença é um elemento que enriquece, mostrando outras formas de ser e fazer.

- Confiança na capacidade de transformação pessoal: É fundamental que o facilitador acredite na possibilidade de transformação pessoal, reconhecendo em todo indivíduo a capacidade de adaptar-se a novas experiências e formas de ser.

- Escuta e acolhimento oferecido a todos: Todos no grupo devem ter vez e voz. O facilitador deve estar atento para estimular a fala daqueles adolescentes que buscam esquivar-se da participação sem, contudo, colocá-los em situações de constrangimento. Desse modo, as diferenças passam a ser acolhidas e entendidas.

- Busca das qualidades existentes em cada indivíduo: No grupo, todos têm uma contribuição pessoal a dar. A confiança e as expectativas que o facilitador verdadeiramente deposita nele podem ajudá-lo a descobrir em si próprio qualidades que ainda não conhecia.

- Delicadeza no tratamento: Tratar com delicadeza não impede o ser firme e decidido. Diz respeito, sim, a uma forma de tratar que implica na criação de um clima de confiança, acolhimento e afeto. O educador precisa evitar ironias, sarcasmos, cinismo e desqualificações.

“Construir um novo ser e um novo mundo a partir de uma
nova relação é a chave da função social do educador.
O vínculo que se estabelece entre educador e adolescente
abre possibilidades para novas formas de sentir, querer e agir.”

Leia também:

Regulamentação da profissão de Educad@r Social

domingo, 11 de setembro de 2011

Novos membros do Conselho da Criança tomam posse

Os novos membros da sociedade civil com assento Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA), para o biênio 2011/2013, foram empossados na tarde desta quarta-feira (31) no Paço Municipal.

Eles foram eleitos no dia 16 de agosto e indicados pelas entidades sociais ligadas às áreas de esporte, lazer e cultura; saúde; assistência social; educação; criança e adolescente com deficiência; segurança e justiça.

Presente na cerimônia de posse, a coordenadora do Colegiado do CMDCA, Isabel Cristina da Silva Machado Martinelli, parabenizou os novos membros destacando que trabalhar com criança e adolescente é uma missão, que exige muito comprometimento.

O termo de posse foi assinado pelo vice-prefeito, na presença do presidente Fundhas (Fundação Hélio Augusto de Souza) e dos secretários de Desenvolvimento Social, da Juventude e de Esportes e Lazer.

O Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente de São José dos Campos, criado pela Lei n° 3676 de 11 de Dezembro de 1989, é o órgão deliberativo e controlador de políticas públicas voltadas à garantia dos direitos da criança e do adolescente no município.

O CMDCA é responsável pelo gerenciamento do Fundo Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (Fumdicad), destinando verbas para organizações governamentais e não–governamentais, com o objetivo de suprir as necessidades da política de atenção à criança e ao adolescente do município.

Os novos conselheiros titulares e suplentes para o biênio 2011-2013

Área da Saúde
Entidade: Grupo de Assistência à Criança com Câncer
Titular: Rosemary Dominguez Sanz
1º suplente: Maria Augusta Linger Pinheiro

Área da Assistência Social
Entidade: AVAPE – Associação para Valorização de Pessoas com Deficiência
Titular: Eugênia Maria Aparecida Dáquina
1º suplente: Eliane Cristine Rocha

Área de Segurança e Justiça
Entidade: Cruzada Assistencial Padre João Guimarães
Titular: Wanda Lúcia de Souza
1º suplente: José Aparecido dos Santos

Área da Educação
Entidade: COMAS – Comunidade Cristã de Ação Social
Titular: Lucimara Silva de Oliveira
1º suplente: Estevão Rosa de Carvalho

Área de Esporte Lazer e Cultura
Entidade: Associação Esportiva Rugby Clube
Titular: Marisa Bueno Santos Lombello
1º suplente: Silvia Helena de Souza Reis Castro

Área da Criança e Adolescente com Deficiência
Entidade: Ágape – Associação Ágape para Educação Especial
Titular: Lindóia Bernardino Garcia
1º suplente: Elisete Cabral Ramos

Programa pelo Direito de Ser Criança


quarta-feira, 7 de setembro de 2011

A formação de educadores sociais e agentes voluntários internacionais em projetos sócio-comunitários: A contribuição do pensamento de Paulo Freire

Olá, caros educadores e adolescentes!

Fico muito honrada em poder contribuir com a propagação de boas idéias e em acreditar numa educação possível e necessária. Vou utilizar partes fundamentais do texto de Alexandre Magno T. Silva, baseado no pensamento de Paulo Freire.
Boa viagem e excelente mergulho!!!
Beijos e espero nos encontrarmos de novo em breve...
Ruth
Leia também: Competências do Educador Social , Regulamentação da profissão de Educad@r Social
A formação de educadores sociais e agentes voluntários internacionais em projetos sócio-comunitários: A contribuição do pensamento de Paulo Freire
Alexandre Magno Tavares da Silva1

RESUMO:
Este artigo aborda algumas experiências e reflexões que estão sendo realizadas por educadores(as) e voluntários que atuam em Projetos Sócio-Comunitários no atendimento a crianças, adolescentes e jovens em situação de pobreza e exclusão social na região do agreste pernambucano. Partindo das reflexões de Paulo Freire tomaremos o ‘Protagonismo Juvenil’ enquanto prática e categoria sócio-educativa para refletir em torno do lugar que o mesmo ocupa no processo formativo de educadores e educadoras sociais, como também de voluntários sociais nos espaços não-escolares. Esta discussão aponta para a necessidade de mirar, olhar e tematizar uma série de experiências sócio-educativas que se desenrolam no cotidiano social dos países do ‘Terceiro Mundo’ e que, apesar de carregadas de significados e potencialidades (de enfrentamento de uma realidade negadora da vida), correm o risco de passarem despercebidas aos olhares acadêmicos, não atendo esses contextos enquanto espaços de produção de saberes e competências. Por outro lado, está se tornando intensa a participação de jovens vindos de Projetos de Voluntariado Internacional, sobretudo da Alemanha, que durante meses vão interagindo com projetos sócio-comunitários. Se o protagonismo infanto-juvenil está alterando a concepção e formação dos educadores sociais a nível teórico-metodológico, este quadro também influi significativamente na formação e concepção do trabalho voluntário voltado a possibilitar que esta experiência intercultural contribua no sentido de construir uma sociedade justa e solidária.

PALAVRAS-CHAVE: Projetos Comunitários – Protagonismo Infanto-Juvenil – Formação de Educadores

INTRODUÇÃO
Nos últimos anos tem-se percebido um aumento significativo do engajamento de jovens e adultos que, inquietos diante da situação de pobreza e marginalização, vão tentando dar sua parcela de contribuição no elaborar estratégias de compreensão e intervenção neste quadro. Podemos exemplificar a multiplicação dos espaços de participação popular: nos Projetos Sócio-Educativos, Observatórios da Cidadania, Conselhos Municipais de Direito, Movimentos Sociais e Populares, etc.
muitos desses jovens e adultos atuam em projetos sócio-comunitários, que cada vez mais tornam-se alvos de pesquisas e programas extensionistas de universidades.Se por um lado a produção de conhecimentos no espaço acadêmico está carregada de possibilidades teóricas de interpretação e análise da estrutura social (sobretudo quanto aos elementos geradores das condições de marginalização e empobrecimento da maior parte da população e as respostas viabilizadas pela
sociedade civil organizada), por outro lado torna-se necessário que este espaço acadêmico conheça de que forma está ocorrendo o processo de dar-se conta da realidade social, da produção de saberes nas práticas cotidianas, sugeridas pelos próprios educadores e educadoras sociais; torna-se necessário precisamente para possibilitar um reconhecimento e visualização do papel desses atores sociais (que atuam em espaços não-escolares, projetos sociais, de desenvolvimento, etc.) enquanto
sujeitos históricos, produtores de saberes e conhecimentos, cuja experiência educativa é construída sobretudo com a colaboração da atuação das crianças, adolescentes e jovens na teia dos acontecimentos no cotidiano social (cf. GRACIANI 1997).
Esta situação exige do espaço acadêmico um revisitar das formas:
•de aprender com as experiências cotidianas,
•de atuar junto às comunidades,
•de dialogar com os espaços escolares e não-escolares,
•no exercício de planejamento, execução e divulgação das pesquisas científicas,
•na montagem dos projetos extensionistas, e especialmente
•do compromisso ético enquanto acadêmicos, junto aos mais empobrecidos e marginalizados.

1. Adolescentes e jovens enquanto protagonistas no espaço social: o para que e o para quem.
Embora se perceba a importância dos adolescentes e jovens em seu papel ativo dentro da estrutura social, estes ainda não foram reconhecidos plenamente enquanto sujeitos históricos e sociais, continuando sendo excluídos das formas ativas de participação social e política3. Uma das causas para esta postura decorre da imagem construída sobre a infância e a juventude ao longo da história (sobretudo sua ausência como função ativa dentro da História da Educação), que muitas vezes está
enraizada em um olhar sociocêntrico por parte do mundo adulto4. Por outro lado há também a falta de conhecimento em torno da produção de saberes e competências desses adolescentes e jovens que nas suas experiências de vida no cotidiano social,i.e. no mundo da escola, da comunidade, da família, do trabalho, etc (cf. SILVA 2001,p.12-13), tecem novas formas de olhar, interpretar e agir e cujo resultado está cada vez mais fazendo parte das iniciativas de formação dos educadores e educadoras sociais. Como exemplo podem ser citados os vários grupos de discussão sobre políticas
públicas em alguns municípios do agreste pernambucano e que estão exigindo dos educadores sociais uma discussão em torno na necessidade de um maior interagir com os adolescentes e jovens dentro dessas questões, como também uma participação propositiva dos educadores e educadoras junto aos conselhos municipais na área de saúde, educação, assistência social, desenvolvimento sustentável, etc.
A conquista do Estatuto da Criança e do Adolescente contribuiu significativamente para a reconstrução da imagem em torno das crianças, adolescentes e jovens, passando a serem vistos de Objetos (passivos) a Sujeitos Sociais (ativos) nas ações sócio-educativas, entretanto ainda se precisa trilhar um longo caminho, sobretudo no revisitar alguns paradigmas e conceitos no campo pedagógico e sociológico, para dar conta desta nova realidade.
Esta mudança de olhar encontra na categoria Protagonismo um elemento favorável para o entendimento e a efetivação, não apenas dos direitos fundamentais das crianças, adolescentes e jovens (que está resumido no artigo 4º do Documento), mas para dar-se conta do protagonismo implícito no cotidiano das lutas populares em suas diversas formas de manifestação. Nesse sentido, o resgate, o entendimento, a tematização em torno da criança, do adolescente e do jovem enquanto sujeitos históricos e sociais, passa necessariamente pelo conhecimento e discussão em torno
da presença desse protagonismo também nas lutas populares. Este protagonismo na experiência da América Latina está assentado em um tripé, sendo as bases: (a) Teologia da Libertação, (b) Pedagogia Libertadora, (c) Surgimento dos Movimentos Sociais organizados.

Protagonismo infanto-juvenil: referência no protagonismo das classes populares.
Para falar sobre o protagonismo infanto-juvenil gostaríamos de tomar como referência dois aspectos específicos: (1ª.) A situação de exclusão social na qual crianças e adolescentes estão inseridos, (2ª.) As estratégias de enfrentamento por parte das classes populares.
...
Ao falar sobre esta inserção do adolescente e o jovem enquanto Sujeitos Sociais,CUSSIANOVICH (1999), aponta o protagonismo como importante categoria na história sócio-cultural da criança e destaca seus cinco elementos importantes:
•Protagonismo como um Direito Humano;
•Protagonismo como expressão de solidariedade;
•Protagonismo é independente de idade;
•Protagonismo enquanto conceito e eixo prático da participação;
•Protagonismo enquanto exercício de organização.
Aqui, quer se entender o protagonismo dos adolescentes e jovens como expressão de suas críticas sobre estrutura social criando formas e soluções para seus problemas.
...
Dentro do processo da luta pela sobrevivência, adolescentes e jovens, sobretudo em países do „Terceiro Mundo“, vão elaborando e expressando diferentes formas de verem a si mesmos e o mundo que os cerca. Neste processo, o debate latino-americano sobre o protagonismo infanto-juvenil vem ganhando gradativamente seu espaço e possui seus primeiros momentos concretos nos fins dos anos 70.
Este protagonismo possui suas raízes sobretudo no protagonismo das classes populares organizadas na América Latina e está ligado, como aludimos acima, às novas correntes pedagógicas que se concretizam:
•na pedagogia da Libertação;
•no surgimento dos movimentos sociais;
•na Teologia da Libertação;
•na organização de adolescentes e jovens trabalhadores.
Dentro desta perspectiva, surge um novo olhar em torno da adolescência e da juventude, de perceber que por exemplo, a luta pelos Direitos não é monopólio exclusivo dos adultos, que adolescentes e jovens estão a cada dia construindo a necessidade de refletirem sobre suas experiências de vida. Antes uma das grandes motivações eram as condições de trabalho, e hoje outros focos foram descobertos, como é o caso da luta pela produção cultural, políticas públicas e sociais, lazer, moradia, etc. Nesse sentido, podemos abaixo destacar algumas características desse
protagonismo.
•Participação em ações que dizem respeito a problemas relativos ao bem comum, na escola (grêmios estudantis, conteúdos escolares cada vez mais relacionados à experiência de vida dos adolescentes e jovens), na comunidade ou na sociedade mais ampla – como exemplo podemos citar a iniciativa de uma professora de História em uma escola pública da cidade de Caruaru que
estimulou seus alunos a escreverem a história do bairro no qual a escola está localizada. Nesta ação os alunos passaram a conhecer melhor as necessidades, avanços e as histórias dos personagens do bairro;
•Participação na organização e planejamento das atividades, no que envolve o conhecimento relacionado, da execução, dos resultados – como exemplo podemos citar a participação de educandos e educandas na elaboração dos programas de atividades sócio-educativas (oficinas de arte, música, artesanato, horticultura, etc.);
•Passagem da mensagem da cidadania criando acontecimentos em que a criança e os adolescentes ocupam uma posição de centralidade – Como por exemplo nas oficinas da cidadania realizadas em vários bairros da cidade de Caruaru (Vila Kennedy, Vila Pe. Inácio, Cedro, Morro Bom Jesus, COHAB III), nas quais os(as) adolescentes e jovens partilharam os diversos olhares em torno
dos bairros em suas histórias, necessidades e possibilidades de enfrentamento da falta de condições de vida (carta ao prefeito, elaboração de um informativo sobre cidadania, etc.);
•Formar superior de educação para a cidadania não por palavras, mas pelo curso dos acontecimentos – p. ex. através da participação de educandos e educandas em seminários e fóruns municipais de defesa dos direitos da criança e do adolescente, participação nas manifestações públicas como GRITOS DOS EXCLUÍDOS ou CAMPANHAS DA FRATERNIDADE, etc.;
•Protagonismo concebe o adolescente e o jovem como fonte de iniciativa, que é ação; como fonte de liberdade, que é opção; e como fonte de compromissos, que é responsabilidade – p. ex. na participação de assembléias avaliativas nos projetos sócio-comunitários, na montagem de informativos, jornais, encontros de formação exclusivo para os adolescentes e jovens, etc.;
•É um tipo de intervenção no contexto social para responder problemas reais em que a criança e o adolescente são atores principais. Os aspectos citados acima surgiram do diálogo entre educadores sociais e educandos(as) nos vários momentos de partilha de saberes dentro dos espaços
escolares e não-escolares..
2. Dando-se conta da rua enquanto espaço de atuação
Refletindo sobre a leitura do protagonismo infanto-juvenil enquanto elemento na formação dos educadores sociais e de participantes em programa de voluntariado internacional, partimos de uma das idéias do pensador Paulo Freire em torno do darse conta da criança, do adolescente e dos jovens como sujeitos sociais e culturais.
Nesse processo de dar-se conta, podemos destacar alguns cenários, cujos elementos e acontecimentos presentes, favorecem a discussão e análise dos adolescentes e jovens em condições de pobreza como sujeitos sociais e protagonistas. Estes cenários são de importância fundamental no processo do dar-se conta do educador e da educadora social e do voluntário em torno da experiência do protagonismo.
...
3. Paulo Freire e os educadores sociais: possibilidades de uma proposta
alter(n)ativa no mirar a criança e o adolescente enquanto protagonistas na ação
sócio-educativa.
No início dos anos 80 eram poucas as oportunidades ou reflexões que pudessem ajudar os educadores sociais a refletirem suas práticas e construirem uma proposta educativa centrada na necessidade dos educandos e educandas. Foi aí que em meados de 1983, Paulo Freire se encontrava com Educadores e Educadoras Sociais que atuam no atendimento a crianças e adolescentes em situação de pobreza no Brasil; o momento era o de refletir e construir com o educador (que tanto influenciou as propostas alternativas de atendimento à criança e ao adolescente), novas possibilidades de enfrentamento da situação de marginalização na qual as crianças, adolescentes e jovens se encontravam. Naquela ocasião ele chamava atenção para a
construção de uma nova postura educativa dos educadores e educadoras sociais no trabalho junto as crianças, adolescentes e jovens que pouco a pouco se descobriam enquanto sujeitos sociais e protagonistas na ação sócio-educativa.
A partir daquele momento, educadores/as embarcavam num processo de elaboração/criação constante de suas vidas, de suas práticas; vendo e revendo, fazendo e refazendo princípios educativos voltados a um atendimento não paternalista, mas sobretudo libertador. Esse processo procura tomar como ponto de partida o Pensar a Prática do cotidiano tanto nas situações de Rua, como dentro dos Projetos Sócio-Comunitários. Nesta convivência, educadores e educadoras iam construindo condições para efetivar situações grupais autênticas em que se pudessem captar as
expectativas, histórias de vida, valores etc., através da real participação da Meninada.
Passados vinte e quatro anos, a participação ativa das crianças, adolescentes e jovens (sobretudo os dois últimos) no processo educativo vem se tornando um elemento presente e que vem colaborando, levantando novos olhares em torno da formação do/a educador/a social, e dos voluntários, no sentido de perceberem a necessidade de se identificarem com as necessidades dos adolescentes e jovens, sem perder sua individualidade, buscarem com eles e elas as propostas para suas inquietações do ‚existir no mundo‛, fazendo a história com as crianças, os adolescentes
e os jovens.
Necessário se torna o educador e a educadora perceberem que a Rua não é só medo e também não é só brincadeira. As crianças, adolescentes e jovens, efetivamente, tem de se ‚virar‛, aprender a se ‚safar‛ e a se ‚sustentar‛. Conquistar o ponto de venda, travar relações amigáveis ou não, com outras crianças (e mesmo com adultos) que com ela disputam o espaço, se inserir ou não em atividades ilícitas, lidar com a pressão dos órgãos repressivos, lidar com a identidade marginal criada, que ela sente no olhar das pessoas. Por outro lado na sociedade capitalista industrial, a rua
deixa de ser um lugar comum, espaço geral de sociabilidade para se restringir a um espaço monofuncional destinado a circulação. O espaço de socialização livre da rua é substituído pelo das instituições, sobretudo, da escola.
...
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