terça-feira, 20 de setembro de 2011

Princípios básicos para trabalhar com grupos de adolescentes

(Fonte: “Aprendendo a ser e a conviver”, de Margarida Serrão e Maria Clarice Baleeiro. São Paulo: FTD, 1999.)
“Mas, eu sei que onde se imaginava por fim do caminho,
está plantado o marco de uma nova e possível estaca zero”

Um princípio é como o norte na bússola que aponta a direção, indicando o caminho a seguir e evitando o desvio da rota. Os princípios básicos para o trabalho com grupos de adolescentes expressam os fundamentos para a atuação do educador dentro do grupo. É o que dá sustentação ao trabalho, aquilo de que não se pode abrir mão.
Trabalhar com grupos de adolescentes é estar constante e insistentemente tocando esse material sutil e delicado de que é feito o ser humano. Num fazer e refazer permanente, lá estamos nós, educadores, acreditando outra vez em sonhos. E de sonho em sonho, vamos construindo a realidade.
Na nossa experiência em desenvolvimento pessoal e social de jovens, não há ponto de chegada predeterminado, pois é impossível precisar com segurança os resultados que serão obtidos ao término do processo grupal. Estabelecemos resultados esperados, mas cada grupo vai chegar onde for possível. Só conhecemos o ponto de partida.
O caminho pode ser longo. Estamos sempre por chegar, construindo e reconstruindo. Trata-se de um caminhar contínuo, repleto de descobertas e surpresas. O importante é seguir em frente, dar o máximo de si, permitir-se tentar, estar aberto ao novo.
Ao nos darmos conta de que não há ponto de chegada definido, talvez sejamos tomados por dúvidas e inquietações: vale a pena o que faço? Minha ação gera frutos para o adolescente? Será que tudo isso é em vão? É nesse momento que o educador se debate com as ameaças à sua onipotência, o que exige dele a aceitação de seus limites, dos limites de sua ação e da sua incapacidade de responder a todas as solicitações.
Assim é o trabalho com o adolescente, cheio de possibilidades e de reconstruções. As sementes deixadas germinarão a seu tempo. Os frutos talvez não os possamos colher, mas sabemos que lá estarão para serem colhidos. Trabalhamos com valores e atitudes. E valores e atitudes precisam de tempo para constituir-se e consolidar-se.
Lembramos que o termo facilitador se refere ao educador no seu trabalho de coordenação, por reconhecermos que a essência de sua atuação é facilitar o caminho do grupo na direção do autoconhecimento, do desenvolvimento pessoal e social e da cidadania.

Colocar limites:“Sem limites não há possibilidade de convivência”
A construção de um vínculo afetivo com o grupo não significa uma relação permissiva em que tudo seja possível e todos os desejos individuais, atendidos. Os papéis e níveis de responsabilidade do facilitador e dos participantes devem permanecer bem definidos. Os limites situam as possibilidades e impossibilidades de determinadas experiências, até onde cada um pode e deve ir. Ao facilitador compete a colocação dos limites que vão permitir a formação do grupo e a preservação de um clima de respeito e confiança. Isto favorece o estabelecimento de uma comunicação em que todos podem expressar seus sentimentos e opiniões com liberdade.
Os limites devem ser claros, objetivos, justos e coerentes e precisam ser estabelecidos com o grupo de maneira firme e amorosa. Quando nos referimos a limites, não estamos tratando apenas de proibições e impedimentos, mas incluímos as regras básicas do convívio e do funcionamento grupal que devem fazer parte de um “contrato” entre facilitador e os adolescentes. Os limites não devem ser tomados como punição, mas como contornos necessários a uma convivência humana mais ética.
É importante que o facilitador seja verdadeiro, coerente, autêntico, procurando diminuir contradições entre o que faz e o que diz, sem ocupar o lugar de onipotente e salvador, mostrando com respeito as incoerências do grupo e de seus integrantes e perguntando sobre aquilo que não é dito, mas que aparece nas entrelinhas.

Respeitar-se mutuamente:
Para que um grupo possa se constituir, é fundamental que se estabeleça uma relação de respeito mútuo, cabendo ao facilitador dar o exemplo. Respeitar alguém significa respeitar sua individualidade, suas formas de expressão e imagem, suas origens, suas escolhas, suas opiniões, seus limites e seus sentimentos. Respeitar não implica em concordar com o outro ou elogiar qualquer tipo de conduta. Significa não ter o direito de desqualificar, menosprezar, ridicularizar, oprimir e/ou impor.
O respeito no grupo se consolida quando vínculos são estabelecidos e limites definidos. Ele não brota naturalmente, mas é cultivado dentro do grupo como uma planta que precisa ser posta em solo adubado, ser regada e cuidada para que floresça e dê frutos.

Construir o vínculo afetivo:
Chamamos de vínculo a relação que se constrói entre as pessoas na convivência grupal. Através do vínculo, o processo de desenvolvimento pessoal e social do jovem se torna possível.
O vínculo tem papel essencial em toda e qualquer ação que objetiva mudanças e transformações, funcionando como o elo de uma corrente que liga os indivíduos, favorecendo a ampliação do modo de sentir e perceber a si mesmo e ao outro.
O vínculo afetivo que o facilitador estabelece com o grupo deve ter um caráter libertador, que permita a expressão de questões pessoais e conduza à autonomia, abrindo espaço para novos questionamentos, quebrando preconceitos e impedindo que os rótulos se tornem permanentes e os papéis fixos.
Para criar condições favoráveis à construção do vínculo, o facilitador deve observar, dentre outras questões, alguns pontos fundamentais, como:
- Disponibilidade interna: É preciso que todos – facilitador e participantes – estejam dispostos a estar ali para construir algo em comum e dediquem a essa construção o que há de mais verdadeiro em si. É fundamental que cada participante se sinta um elo da corrente.

- Aceitação das diferenças individuais e do jeito de ser de cada um: Esta aceitação possibilita a compreensão de que a diferença é um elemento que enriquece, mostrando outras formas de ser e fazer.

- Confiança na capacidade de transformação pessoal: É fundamental que o facilitador acredite na possibilidade de transformação pessoal, reconhecendo em todo indivíduo a capacidade de adaptar-se a novas experiências e formas de ser.

- Escuta e acolhimento oferecido a todos: Todos no grupo devem ter vez e voz. O facilitador deve estar atento para estimular a fala daqueles adolescentes que buscam esquivar-se da participação sem, contudo, colocá-los em situações de constrangimento. Desse modo, as diferenças passam a ser acolhidas e entendidas.

- Busca das qualidades existentes em cada indivíduo: No grupo, todos têm uma contribuição pessoal a dar. A confiança e as expectativas que o facilitador verdadeiramente deposita nele podem ajudá-lo a descobrir em si próprio qualidades que ainda não conhecia.

- Delicadeza no tratamento: Tratar com delicadeza não impede o ser firme e decidido. Diz respeito, sim, a uma forma de tratar que implica na criação de um clima de confiança, acolhimento e afeto. O educador precisa evitar ironias, sarcasmos, cinismo e desqualificações.

“Construir um novo ser e um novo mundo a partir de uma
nova relação é a chave da função social do educador.
O vínculo que se estabelece entre educador e adolescente
abre possibilidades para novas formas de sentir, querer e agir.”

Leia também:

Regulamentação da profissão de Educad@r Social

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