quarta-feira, 7 de setembro de 2011

A formação de educadores sociais e agentes voluntários internacionais em projetos sócio-comunitários: A contribuição do pensamento de Paulo Freire

Olá, caros educadores e adolescentes!

Fico muito honrada em poder contribuir com a propagação de boas idéias e em acreditar numa educação possível e necessária. Vou utilizar partes fundamentais do texto de Alexandre Magno T. Silva, baseado no pensamento de Paulo Freire.
Boa viagem e excelente mergulho!!!
Beijos e espero nos encontrarmos de novo em breve...
Ruth
Leia também: Competências do Educador Social , Regulamentação da profissão de Educad@r Social
A formação de educadores sociais e agentes voluntários internacionais em projetos sócio-comunitários: A contribuição do pensamento de Paulo Freire
Alexandre Magno Tavares da Silva1

RESUMO:
Este artigo aborda algumas experiências e reflexões que estão sendo realizadas por educadores(as) e voluntários que atuam em Projetos Sócio-Comunitários no atendimento a crianças, adolescentes e jovens em situação de pobreza e exclusão social na região do agreste pernambucano. Partindo das reflexões de Paulo Freire tomaremos o ‘Protagonismo Juvenil’ enquanto prática e categoria sócio-educativa para refletir em torno do lugar que o mesmo ocupa no processo formativo de educadores e educadoras sociais, como também de voluntários sociais nos espaços não-escolares. Esta discussão aponta para a necessidade de mirar, olhar e tematizar uma série de experiências sócio-educativas que se desenrolam no cotidiano social dos países do ‘Terceiro Mundo’ e que, apesar de carregadas de significados e potencialidades (de enfrentamento de uma realidade negadora da vida), correm o risco de passarem despercebidas aos olhares acadêmicos, não atendo esses contextos enquanto espaços de produção de saberes e competências. Por outro lado, está se tornando intensa a participação de jovens vindos de Projetos de Voluntariado Internacional, sobretudo da Alemanha, que durante meses vão interagindo com projetos sócio-comunitários. Se o protagonismo infanto-juvenil está alterando a concepção e formação dos educadores sociais a nível teórico-metodológico, este quadro também influi significativamente na formação e concepção do trabalho voluntário voltado a possibilitar que esta experiência intercultural contribua no sentido de construir uma sociedade justa e solidária.

PALAVRAS-CHAVE: Projetos Comunitários – Protagonismo Infanto-Juvenil – Formação de Educadores

INTRODUÇÃO
Nos últimos anos tem-se percebido um aumento significativo do engajamento de jovens e adultos que, inquietos diante da situação de pobreza e marginalização, vão tentando dar sua parcela de contribuição no elaborar estratégias de compreensão e intervenção neste quadro. Podemos exemplificar a multiplicação dos espaços de participação popular: nos Projetos Sócio-Educativos, Observatórios da Cidadania, Conselhos Municipais de Direito, Movimentos Sociais e Populares, etc.
muitos desses jovens e adultos atuam em projetos sócio-comunitários, que cada vez mais tornam-se alvos de pesquisas e programas extensionistas de universidades.Se por um lado a produção de conhecimentos no espaço acadêmico está carregada de possibilidades teóricas de interpretação e análise da estrutura social (sobretudo quanto aos elementos geradores das condições de marginalização e empobrecimento da maior parte da população e as respostas viabilizadas pela
sociedade civil organizada), por outro lado torna-se necessário que este espaço acadêmico conheça de que forma está ocorrendo o processo de dar-se conta da realidade social, da produção de saberes nas práticas cotidianas, sugeridas pelos próprios educadores e educadoras sociais; torna-se necessário precisamente para possibilitar um reconhecimento e visualização do papel desses atores sociais (que atuam em espaços não-escolares, projetos sociais, de desenvolvimento, etc.) enquanto
sujeitos históricos, produtores de saberes e conhecimentos, cuja experiência educativa é construída sobretudo com a colaboração da atuação das crianças, adolescentes e jovens na teia dos acontecimentos no cotidiano social (cf. GRACIANI 1997).
Esta situação exige do espaço acadêmico um revisitar das formas:
•de aprender com as experiências cotidianas,
•de atuar junto às comunidades,
•de dialogar com os espaços escolares e não-escolares,
•no exercício de planejamento, execução e divulgação das pesquisas científicas,
•na montagem dos projetos extensionistas, e especialmente
•do compromisso ético enquanto acadêmicos, junto aos mais empobrecidos e marginalizados.

1. Adolescentes e jovens enquanto protagonistas no espaço social: o para que e o para quem.
Embora se perceba a importância dos adolescentes e jovens em seu papel ativo dentro da estrutura social, estes ainda não foram reconhecidos plenamente enquanto sujeitos históricos e sociais, continuando sendo excluídos das formas ativas de participação social e política3. Uma das causas para esta postura decorre da imagem construída sobre a infância e a juventude ao longo da história (sobretudo sua ausência como função ativa dentro da História da Educação), que muitas vezes está
enraizada em um olhar sociocêntrico por parte do mundo adulto4. Por outro lado há também a falta de conhecimento em torno da produção de saberes e competências desses adolescentes e jovens que nas suas experiências de vida no cotidiano social,i.e. no mundo da escola, da comunidade, da família, do trabalho, etc (cf. SILVA 2001,p.12-13), tecem novas formas de olhar, interpretar e agir e cujo resultado está cada vez mais fazendo parte das iniciativas de formação dos educadores e educadoras sociais. Como exemplo podem ser citados os vários grupos de discussão sobre políticas
públicas em alguns municípios do agreste pernambucano e que estão exigindo dos educadores sociais uma discussão em torno na necessidade de um maior interagir com os adolescentes e jovens dentro dessas questões, como também uma participação propositiva dos educadores e educadoras junto aos conselhos municipais na área de saúde, educação, assistência social, desenvolvimento sustentável, etc.
A conquista do Estatuto da Criança e do Adolescente contribuiu significativamente para a reconstrução da imagem em torno das crianças, adolescentes e jovens, passando a serem vistos de Objetos (passivos) a Sujeitos Sociais (ativos) nas ações sócio-educativas, entretanto ainda se precisa trilhar um longo caminho, sobretudo no revisitar alguns paradigmas e conceitos no campo pedagógico e sociológico, para dar conta desta nova realidade.
Esta mudança de olhar encontra na categoria Protagonismo um elemento favorável para o entendimento e a efetivação, não apenas dos direitos fundamentais das crianças, adolescentes e jovens (que está resumido no artigo 4º do Documento), mas para dar-se conta do protagonismo implícito no cotidiano das lutas populares em suas diversas formas de manifestação. Nesse sentido, o resgate, o entendimento, a tematização em torno da criança, do adolescente e do jovem enquanto sujeitos históricos e sociais, passa necessariamente pelo conhecimento e discussão em torno
da presença desse protagonismo também nas lutas populares. Este protagonismo na experiência da América Latina está assentado em um tripé, sendo as bases: (a) Teologia da Libertação, (b) Pedagogia Libertadora, (c) Surgimento dos Movimentos Sociais organizados.

Protagonismo infanto-juvenil: referência no protagonismo das classes populares.
Para falar sobre o protagonismo infanto-juvenil gostaríamos de tomar como referência dois aspectos específicos: (1ª.) A situação de exclusão social na qual crianças e adolescentes estão inseridos, (2ª.) As estratégias de enfrentamento por parte das classes populares.
...
Ao falar sobre esta inserção do adolescente e o jovem enquanto Sujeitos Sociais,CUSSIANOVICH (1999), aponta o protagonismo como importante categoria na história sócio-cultural da criança e destaca seus cinco elementos importantes:
•Protagonismo como um Direito Humano;
•Protagonismo como expressão de solidariedade;
•Protagonismo é independente de idade;
•Protagonismo enquanto conceito e eixo prático da participação;
•Protagonismo enquanto exercício de organização.
Aqui, quer se entender o protagonismo dos adolescentes e jovens como expressão de suas críticas sobre estrutura social criando formas e soluções para seus problemas.
...
Dentro do processo da luta pela sobrevivência, adolescentes e jovens, sobretudo em países do „Terceiro Mundo“, vão elaborando e expressando diferentes formas de verem a si mesmos e o mundo que os cerca. Neste processo, o debate latino-americano sobre o protagonismo infanto-juvenil vem ganhando gradativamente seu espaço e possui seus primeiros momentos concretos nos fins dos anos 70.
Este protagonismo possui suas raízes sobretudo no protagonismo das classes populares organizadas na América Latina e está ligado, como aludimos acima, às novas correntes pedagógicas que se concretizam:
•na pedagogia da Libertação;
•no surgimento dos movimentos sociais;
•na Teologia da Libertação;
•na organização de adolescentes e jovens trabalhadores.
Dentro desta perspectiva, surge um novo olhar em torno da adolescência e da juventude, de perceber que por exemplo, a luta pelos Direitos não é monopólio exclusivo dos adultos, que adolescentes e jovens estão a cada dia construindo a necessidade de refletirem sobre suas experiências de vida. Antes uma das grandes motivações eram as condições de trabalho, e hoje outros focos foram descobertos, como é o caso da luta pela produção cultural, políticas públicas e sociais, lazer, moradia, etc. Nesse sentido, podemos abaixo destacar algumas características desse
protagonismo.
•Participação em ações que dizem respeito a problemas relativos ao bem comum, na escola (grêmios estudantis, conteúdos escolares cada vez mais relacionados à experiência de vida dos adolescentes e jovens), na comunidade ou na sociedade mais ampla – como exemplo podemos citar a iniciativa de uma professora de História em uma escola pública da cidade de Caruaru que
estimulou seus alunos a escreverem a história do bairro no qual a escola está localizada. Nesta ação os alunos passaram a conhecer melhor as necessidades, avanços e as histórias dos personagens do bairro;
•Participação na organização e planejamento das atividades, no que envolve o conhecimento relacionado, da execução, dos resultados – como exemplo podemos citar a participação de educandos e educandas na elaboração dos programas de atividades sócio-educativas (oficinas de arte, música, artesanato, horticultura, etc.);
•Passagem da mensagem da cidadania criando acontecimentos em que a criança e os adolescentes ocupam uma posição de centralidade – Como por exemplo nas oficinas da cidadania realizadas em vários bairros da cidade de Caruaru (Vila Kennedy, Vila Pe. Inácio, Cedro, Morro Bom Jesus, COHAB III), nas quais os(as) adolescentes e jovens partilharam os diversos olhares em torno
dos bairros em suas histórias, necessidades e possibilidades de enfrentamento da falta de condições de vida (carta ao prefeito, elaboração de um informativo sobre cidadania, etc.);
•Formar superior de educação para a cidadania não por palavras, mas pelo curso dos acontecimentos – p. ex. através da participação de educandos e educandas em seminários e fóruns municipais de defesa dos direitos da criança e do adolescente, participação nas manifestações públicas como GRITOS DOS EXCLUÍDOS ou CAMPANHAS DA FRATERNIDADE, etc.;
•Protagonismo concebe o adolescente e o jovem como fonte de iniciativa, que é ação; como fonte de liberdade, que é opção; e como fonte de compromissos, que é responsabilidade – p. ex. na participação de assembléias avaliativas nos projetos sócio-comunitários, na montagem de informativos, jornais, encontros de formação exclusivo para os adolescentes e jovens, etc.;
•É um tipo de intervenção no contexto social para responder problemas reais em que a criança e o adolescente são atores principais. Os aspectos citados acima surgiram do diálogo entre educadores sociais e educandos(as) nos vários momentos de partilha de saberes dentro dos espaços
escolares e não-escolares..
2. Dando-se conta da rua enquanto espaço de atuação
Refletindo sobre a leitura do protagonismo infanto-juvenil enquanto elemento na formação dos educadores sociais e de participantes em programa de voluntariado internacional, partimos de uma das idéias do pensador Paulo Freire em torno do darse conta da criança, do adolescente e dos jovens como sujeitos sociais e culturais.
Nesse processo de dar-se conta, podemos destacar alguns cenários, cujos elementos e acontecimentos presentes, favorecem a discussão e análise dos adolescentes e jovens em condições de pobreza como sujeitos sociais e protagonistas. Estes cenários são de importância fundamental no processo do dar-se conta do educador e da educadora social e do voluntário em torno da experiência do protagonismo.
...
3. Paulo Freire e os educadores sociais: possibilidades de uma proposta
alter(n)ativa no mirar a criança e o adolescente enquanto protagonistas na ação
sócio-educativa.
No início dos anos 80 eram poucas as oportunidades ou reflexões que pudessem ajudar os educadores sociais a refletirem suas práticas e construirem uma proposta educativa centrada na necessidade dos educandos e educandas. Foi aí que em meados de 1983, Paulo Freire se encontrava com Educadores e Educadoras Sociais que atuam no atendimento a crianças e adolescentes em situação de pobreza no Brasil; o momento era o de refletir e construir com o educador (que tanto influenciou as propostas alternativas de atendimento à criança e ao adolescente), novas possibilidades de enfrentamento da situação de marginalização na qual as crianças, adolescentes e jovens se encontravam. Naquela ocasião ele chamava atenção para a
construção de uma nova postura educativa dos educadores e educadoras sociais no trabalho junto as crianças, adolescentes e jovens que pouco a pouco se descobriam enquanto sujeitos sociais e protagonistas na ação sócio-educativa.
A partir daquele momento, educadores/as embarcavam num processo de elaboração/criação constante de suas vidas, de suas práticas; vendo e revendo, fazendo e refazendo princípios educativos voltados a um atendimento não paternalista, mas sobretudo libertador. Esse processo procura tomar como ponto de partida o Pensar a Prática do cotidiano tanto nas situações de Rua, como dentro dos Projetos Sócio-Comunitários. Nesta convivência, educadores e educadoras iam construindo condições para efetivar situações grupais autênticas em que se pudessem captar as
expectativas, histórias de vida, valores etc., através da real participação da Meninada.
Passados vinte e quatro anos, a participação ativa das crianças, adolescentes e jovens (sobretudo os dois últimos) no processo educativo vem se tornando um elemento presente e que vem colaborando, levantando novos olhares em torno da formação do/a educador/a social, e dos voluntários, no sentido de perceberem a necessidade de se identificarem com as necessidades dos adolescentes e jovens, sem perder sua individualidade, buscarem com eles e elas as propostas para suas inquietações do ‚existir no mundo‛, fazendo a história com as crianças, os adolescentes
e os jovens.
Necessário se torna o educador e a educadora perceberem que a Rua não é só medo e também não é só brincadeira. As crianças, adolescentes e jovens, efetivamente, tem de se ‚virar‛, aprender a se ‚safar‛ e a se ‚sustentar‛. Conquistar o ponto de venda, travar relações amigáveis ou não, com outras crianças (e mesmo com adultos) que com ela disputam o espaço, se inserir ou não em atividades ilícitas, lidar com a pressão dos órgãos repressivos, lidar com a identidade marginal criada, que ela sente no olhar das pessoas. Por outro lado na sociedade capitalista industrial, a rua
deixa de ser um lugar comum, espaço geral de sociabilidade para se restringir a um espaço monofuncional destinado a circulação. O espaço de socialização livre da rua é substituído pelo das instituições, sobretudo, da escola.
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