sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Entrevista com o psicólogo Caio Feijó


Escrito por Luana Barros
Qua, 23 de Fevereiro de 2011 17:44
Durante entrevista ao Imperatriz Notícias, o psicólogo falou de educação, família e adolescência

O psicólogo, especialista em psicologia Clínica, psicoterapeuta de jovens, adultos e famílias, mestre em Psicologia da Infância e da Adolescência pela Universidade Federal do Paraná, professor de Psicologia, Terapia Cognitivo-Comportamental, Desenvolvimento Pessoal, Desenvolvimento Interpessoal e de Mediação (Gestão de Conflitos); Caio Feijó, esteve nos dias 15 e 17 de fevereiro ministrando palestras em Imperatriz para professores que integram o quadro da Educação Infantil da Secretaria Municipal de Educação, Esporte e Lazer (SEMED).

Caio Feijó participou em 2000 do Projeto “Cápsula do Tempo” no Fantástico da Rede Globo, quando realizou um experimento com um grupo de 13 adolescentes com média de idade de 15 anos. Em maio de 2010, a "cápsula" foi aberta e os resultados foram divulgados com a cobertura do Fantástico.

Durante suas palestras com os professores, Caio Feijó explicou que o seu foco é a educação social e não a pedagógica Na ocasião, concedeu entrevista a diversos meios de comunicação e conversou com a redação do Site Imperatriz Notícias.

01- Em um de seus artigos, você afirma que “bulling é uma palavra moderna para um tema antigo”. Você acredita que o bulling sempre existiu?

Sim, sempre existiu! Basta perguntar para os mais antigos sobre os apelidos corriqueiros do passado como "quatro olhos", "rolha de poço", "Olívia Palito", entre outros. As proporções é que não eram como as atuais, hoje, por um lado, a comunicação é muito mais intensa (existe até o siberbulling) e por outro, os jovens se preocupam muito mais em "ter" do que "ser", ou seja, os efeitos desta agressão nos dias atuais parecem ser mais contundentes.

02 - Você afirma também que a “sociedade é coercitiva em todas as suas instâncias”, mas conhecendo a sociedade mesmo assim nos surpreendemos com os casos de bulling, por quê? Será se a mídia tem alguma influência na maneira como reagimos aos casos de bulling?

O bulling só existe porque somos uma sociedade coercitiva, e uma parte da mídia tem grande responsabilidade sim na formação dos jovens, quando faz apologia a "ter" esse ou aquele produto para se diferenciar. Quem nunca ouviu histórias sobre crianças e adolescentes que se deprimem porque seus pais não podem comprar aquele tênis da Nike? Daí na escola, sente-se um nada quando riem do seu calçado?

03- Você afirma em seu artigo sobre bulling : “Pessoalmente, sou a favor de que as crianças dessa idade tivessem como professores, DOUTORES EM EDUCAÇÃO. Os Mestres poderiam dar aula para o ensino fundamental e médio, e os especialistas, para o ensino superior. Acredite, a qualidade da educação só teria ganhos”. Você acredita que a forma como são estruturados os primeiros anos da educação formal esta incorreta?

É muito comum aí pelo Brasil afora, de se encontrar serventes cuidando de crianças do ensino infantil, e até mesmo, fazendo o papel da professora, por falta de pessoal. A linha de raciocínio dos estudiosos do desenvolvimento humano é que: sendo a primeira infância (0 a 5 anos) a fase mais importante da vida, a fase da construção da personalidade, e que determinará quem será esse indivíduo na vida adulta, é lógico que essa criança deveria estar cercada de adultos competentes nesse período. No entanto, não é o que acontece em muitas instituições. A minha posição foi e será, que os educadores dessa população infantil deveriam ter os maiores salários, o melhor preparo e a melhor formação para assegurar futuros alunos motivados para o estudo, disciplinados, inteligentes e afetivos.

04 - Ouvimos muitos estudiosos afirmarem que a educação é umas das principais responsáveis pela mudança da sociedade, mas também vemos que na escola os problemas e disparidades sociais podem se acentuar; como a escola pode atuar na diminuição dos casos de bulling?

Se preocupando um pouco mais com a educação social dos seus alunos, e envolvendo também a família. Têm muita instituição de ensino no país que se limita exclusivamente à educação pedagógica. Quanto mais programas de educação em valores forem instituídos e mais educadores capacitados para desenvolver habilidades sociais de comunicação com seus educandos, e o respectivo envolvimento familiar, menores serão os índices de bulling nas escolas, é simples assim.

05- Em sua opinião, quais os erros e acertados por parte de pais e mães na educação das crianças e jovens atualmente?

Tenho um livro com o título "Os 10 Erros que os Pais Cometem", bom seria se cometessemos sómente 10 erros na educação dos nossos filhos, no entanto há alguns imperdoáveis como a agressão, a rejeição e a superproteção, esta última, produz tantas consequências nocivas como as outras duas no comportamento futuro dos filhos. - Os maiores acertos dos pais são relacionados com a boa referência (exemplos de comportamentos fundamentados em valores), presença e participação ativa na vida dos filhos, muito afeto e estabelecimento de limites. Regras e limites são obrigações familiares des de a primeira infância.

06 - Com o aumento do consumo do crack, cenário que é considerado uma epidemia por alguns especialistas, como a escola e a família ajudar crianças e adolescentes a evitar o vício?

O acesso e primeiras experiências com as drogas pelos jovens estão diretamente associados com insegurança, baixa autoestima, solidão, e a necessidade de ousar e provar (característica própria de muitos jovens). Assim, todas as propostas preventivas deveriam passar por avaliações profundas sobre as caracteriasticas acima dos nossos filhos e alunos. Muito diálogo, participação ativa (presença na vida do filho). Outro fator, é a idéia de que maconha e outras drogas ilícitas são as portas para o consumo de drogas pesadas como o crack, por exemplo. ENGANO, a maior porta é o álcool, uma droga extremamente poderosa no que diz respeito à dependência, no entanto, muitos pais fazem vista grossa para os porres dos filhos e depois não sabem porque ele está usando crack. Recentemente ouví uma conversa entre duas mães de adolescentes após uma festa de 15 anos e, respondendo à pergunta da amiga sobre se os jovens haviam consumido drogas na festa, a mãe da aniversariante respondeu: "eles beberam bastante mas, droga não rolou".

07 - Quais os principais sonhos e desafios dos adolescentes hoje? O que mudou e poderá mudar?

Os resultados do experimento "A Cápsula do Tempo" confirmam que o adolescente não sabe o que quer. Aos 15 anos eles criticam a família, a escola e o professor, muitas vezes, na fila da inscrição para o vestibular ainda não sabem o curso que irão escolher. Isso é historicamente comum, no entanto, qualquer adolescente dirá que não, que ele sabe o que quer da vida. Alguns anos depois quando inquirido, as respostas serão idênticas às do grupo da "cápsula”: "quando se tem 15 anos a gente fala e faz cada besteira!" Aos 25 anos o maior arrependimento é de não ter dado ouvido aos pais e aos bons professores.

O grande desafio da família e da escola é não tentar mudar o jovem e sim tentar compreendê-lo cada vez mais. Tarefa dificílima, nesta era da revolução tecnológica onde muitos jovens têm mais informações do que muitos pais e professores. Precisamos compreender e aceitar que eles são os NATIVOS DIGITAIS e nós, os mais velhos, IMIGRANTES DIGITAIS. A partir dessa postura, a resistência aos mais velhos, natural da fase, tende a ceder, a comunicação ocorre com mais fluidêz e as oportunidades de mudanças poderão ocorrer.

Nenhum comentário:

Postar um comentário