Quanto mais rapidamente muda tudo, mais difícil é aprender, viver plenamente, realizar-nos. Há uma tensão crescente entre as expectativas e nossa realidade. As organizações precisam de pessoas criativas e as escolas preparam pessoas previsíveis; precisam de pessoas que saibam colaborar, trabalhar em equipe e as escolas preparam para o individualismo, para a competição pessoal.
Muitas pessoas estão perdidas, desfocadas, fazendo escolhas pouco adequadas. É cada vez mais importante sermos cada vez mais autônomos, desenvolvendo um caminho pessoal coerente e o que vemos é a dependência crescente da moda, da aparência, do consumo, da mídia; a falta de reflexão profunda, de opiniões fundamentadas e de práticas libertadoras.
Numa sociedade cada vez mais complexa, a educação social – além da escolar - é decisiva para encontrar novos caminhos de aprendizagem e realização. A educação atual é previsível, repetidora, distante da vida. Com as mudanças tão profundas em todos os campos, a educação precisa ser muito mais criativa, diferente, envolvente.
A escola sozinha não dá conta dessas demandas. Ela precisa ser repensada profundamente e ao mesmo tempo a sociedade propor ações educativas muito mais abrangentes e significativas, que envolvam continuamente as organizações econômicas e sociais, as famílias, o poder público e as mídias.
São muitas as mudanças necessárias:
- Um currículo, mais integrado, mais próximo do cotidiano, com muita mais liberdade de percurso, de escolhas, de integração significativa.
- Metodologias, mais ativas e focadas em pesquisa e produção, em jogos, na relação prática-teoria-prática.
- Maior integração com os pais, com a família. Se a família é educadora, a aprendizagem se torna muito mais fácil e a escola avança mais.
- Melhor organização do tempo e de espaço, muito mais flexível (educação multiespacial e multitemporal). Uma parte em sala de aula, outra na Internet, e outra na cidade, em contato com os lugares significativos para a aprendizagem e para o trabalho.
- Professores mais preparados, melhor formados, melhor remunerados, escolhendo os melhores alunos para serem preparados para a docência. Professores mais humanos, afetivos, acolhedores, além de competentes.
- Gestores pró-ativos, dinamizadores, bem preparados e com visão humanista.
- Uma educação social mais organizada e continuada, que atenda a públicos específicos: jovens casais-pais, pessoas marginalizadas, pessoas com dificuldade de empregabilidade, idosos, pessoas presas. Ensinando valores importantes para a convivência, para o equilíbrio pessoal, para a não dependência emocional, para a valorização pessoal.
- Utilizando as mídias possíveis e de forma integrada nos novos nichos educacionais.
Todas as pessoas precisam ser educadas para aprender a conviver numa sociedade complexa, a respeitar as diferenças, a colaborar mais, a fazer escolhas afetivas mais realizadoras, a ter objetivos de vida mais ricos e abrangentes, a construir percursos mais interessantes e produtivos.
Se tivermos uma educação escolar e social mais interessante, competente e motivadora formaremos melhores cidadãos, melhores profissionais, melhores pais, melhores governantes, melhores pessoas e mais realizadas.
Tudo isto está por fazer. É uma tarefa de longo prazo e que exige o melhor de nós, de todos os que queremos mudar este país para melhor.
Texto complementar do meu livro A educação que desejamos: novos desafios e como chegar lá, da Editora Papirus